segunda-feira, 3 de março de 2008

Projeto para a Turma 101




O NEGRO BONIFÁCIO


(Simões Lopes Neto)



Se o negro era maleva? Cruz! Era um condenado!... mas, taura, isso era, também!
Quando houve a carreira grande, do picaço do major Terêncio e o tordilho do Nadico (filho do Antunes gordo, um que era rengo), quando houve a carreira, digo, foi que o negro mostrou mesmo pra o que prestava...; mas foi caipora.
Escuite.
A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles pagos. Um cajetilha da cidade duma vez que a viu botou-lhe uns versos mui lindos — pro caso — que tinha um que dizia que ela era uma
"............................................... chinoca airosa,
Lindaça como o sol, fresca como uma rosa!...
E o sujeito quis retouçar, porém ela negou-lhe o estribo, porque já trazia mais de quatro pelo beiço, que eram dali, da querência, e aquele tal dos versos era teatino...
Alta e delgada, parecia assim um jerivá ainda novinho, quando balança a copa verde tocada de leve por um vento pouco, da tarde. Tinha os pés pequenos e as mãos mui bem torneadas; cabelo cacheado, as sobrancelhas finas, nariz alinhado.
Mas o rebenqueador, o rebenqueador..., eram os olhos!...
Os olhos da Tudinha eram assim a modo olhos de veado-virá, assustado: pretos, grandes, com luz dentro, tímidos e ao mesmo tempo haraganos... pareciam olhos que estavam sempre ouvindo.., ouvindo mais, que vendo...
Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo; e os lábios da morocha deviam ser macios como treval, doces como mirim, frescos como polpa de guabiju...
E apesar de arisca, era foliona e embuçalava um cristão, pelo só falar, tão cativo...
No mais, buenaça, sem entono; e tinha de que, porque corria à boca pequena que ela era filha do capitão Pereirinha, estancieiro, que só ali, nos Guarás, tinha mais de não sei quantas léguas de campo de lei, povoado, O certo é que o posto em que ela morava com a mãe, a sia Fermina, era um mimo; tinha de um tudo: lavoura, boa cacimba, um rodeíto manso; e a Tudinha tinha cavalo amilhado, só do andar dela, e alguma prata nos preparos.
Parecenças, isso, tinha, e não pouco, com a gente do capitão...
O velho, às vezes, ia por lá, sestear, tomar um chimarrão...
Pois para a carreira essa, tinha acudido um povaréu imenso.
E ela veio, também, com a velha. Velha, é um dizer, porque a sia Fermina ainda fazia um fachadão...
E deu o caso que os quatro embeiçados também vieram, e um, o mais de todos, era o Nadico.
E sem ninguém esperar, também apareceu o negro Bonifácio.
É assim que o diabo as arma...
Escuite.
O negro não vinha por ela, não; antes mais por farrear, jogar e beber: ele era um perdidaço pela cachaça e pelo truco e pela taba.
E bem montado, vinha, num bagual lobuno rabicano, de machinhos altos, peito de pomba e orelhas finas, de tesoura; mui bem tosado a meio cogotilho, e de cola atada, em três tranças, bem alto, onde canta o galo!...
E na garupa, mui refestelada, trazia uma chirua, com ar de querendona...
Eta! negro pachola!
De chapéu de aba larga, botado no cocuruto da cabeça e preso num barbicacho de borlas morrudas, passado pelo nariz; no pescoço um lenço colorado, com o nó republicano; na cintura um tirador de couro de lontra debruado de tafetá azul e mais cheio de cortados do que manchas tem um boi salino!
E na cintura, atravessado com entono, um facão de três palmos, de conta.
Na pabulagem, andava sozinho: quando falava, era alto e grosso e sem olhar para ninguém.
Era um governo, o negro!
Ora bem; depois de se mostrar um pouco, o negro apeou a chirua e já meio entropigaitado começou a pastorejar a Tudinha... e tirando-se dos seus cuidados encostou o cavalo rente no dela e aí no mais, sem um ¾ Deus te salve! ¾ sacudiu-lhe um envite para uma paradita na carreira grande. A piguancha relanceou os seus olhos de veado assustado e não se deu por achada; ele repetiu o convite da aposta e ela então ¾ depois explicou ¾ de puro medo aceitou, devendo ganhar uma libra de doces, se ganhasse o tordilho. O tordilho era o do Nadico.
Ficou fechado o trato.
O negro ¾ era ginetaço! ¾ deu de rédea no lobuno, que virou direito, nos dois pés, e já lhe cravou as chilenas, grandes como um pires, e saiu escaramuçando, meio ladeado!
Os quatro brancos se olharam… o Nadico estava esverdeado, como defunto passado...
A Tudinha pegou logo a caturritar, e a cousa foi passando, como esquecida.
Mas, quê!... o negro estava jurado...
Escuite.
Entraram na cancha os parelheiros, todos dois pisando na ponta do casco, mui bem compostos e lindos, de se lavar com um bochecho d’água.
Fizeram as partidas; largaram; correram: ganhou, de fiador, o do Nadico, o tordilho.
Depois rompeu um vozerio, a gente desparramou-se, parecia um formigueiro desmanchado; as parcerias se juntaram, uns pagavam, outros questionavam.... mas tudo se foi arreglando em ordem, porque ninguém foi capaz de apontar mau jogo.
E foi-se tomar um vinho que os donos da carreira ofereceram, como gaúchos de alma grande, principalmente o major Terêncio, que era o perdedor.
E a Tudinha lá foi, de charola.
No barulho das saúdes e das caçoadas, quando todos se divertiam, foi que apareceu aquele negro excomungado, para aguar o pagode. Esbarrou o cavalo na frente do boliche; trazia na mão um lenço de sequilhos, que estendeu a Tudinha: havia perdido, pagava...
A morocha parou em meio um riso que estava rindo e firmou nele uns olhos atravessados, esquisitos, olhos como pra gente que já os conhecesse.., e como sentiu que o caso estava malparado, para evitar o desaguisado, disse:
¾ Faz favor de entregar à mamãe, sim?!...
O negro arreganhou os beiços, mostrando as canjicas, num pouco caso e repostou:
¾Ora, misturada!..., eu sou teu negro, de cambão!... mas não piá da china velha! Toma!
E estendeu-lhe o braço, oferecendo o atado dos doces.
Aqui, o Nadico manoteou e no soflagrante sopesou a trouxinha e sampou com ela na cara do muçum.
Amigo! Virge’ nossa senhora!
Num pensamento o negro boleou a perna, descascou o facão e se veio!...
O lobuno refugou, bufando.
Que peleia mais linda!
Vinte ferros faiscaram; era o Nadico, eram os outros namorados da Tudinha e eram outros que tinham contas a ajustar com aquele tição atrevido.
Perto do negro Bonifácio, sentado sobre um barril, sem ter nada que ver no angu, estava um paisano tocando viola: o negro ¾ pra fazer boca, o malvado! ¾ largou-lhe um revés, tão bem puxado, que atorou os dedos do coitado e o encordoamento e afundou o tampo do estrumento!...
Fechou o salseiro.
O Nadico mandou a adaga e atravessou a pelanca do pescoço do negro, roçando na veia artéria; o major tocou-lhe fogo, de pistola, indo a bala, de refilão, lanhar-lhe uma perna.., o ventana quadrava o corpo, e rebatia os talhos e pontaços que lhe meneavam sem pena.
E calado, estava; só se via no carão preto o branco dos olhos, fuzilando...
Ai!...
Foi um grito doido da Tudinha... e já se viu o Nadico testavilhar e cair, aberto na barriga, com a buchada de fora, golfando sangue!...
No meio do silêncio que se fez, o negro ainda gritou:
¾ Come agora os meus sobejos!…
Depois, roncou, tal e qual como um porco acuado... e então, foi uma cousa bárbara!...
Em quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando outros, esgaravatando outros, enquanto o diabo esfrega o olho, o chão ficou estivado de gente estropiada, espirrando a sangueira naquele reduto.
é verdade também que ele estava todo esfuracado: a cara, os braços, a camisa, o tirador, as pernas, tinham mais lanhos que a picanha de um reiúno empacador: mas não quebrava o corincho, o trabuzana!
Aquilo seria por obra dalguma oração forte, que ele tinha, cosida no corpo.
A esse tempo, era tudo um alarido pelo acampamento; de todos os lados chovia gente no lugar da briga.
A Tudinha, agarrada ao Nadico, com a cabeça pousando-lhe no colo, beijando-lhe ela os olhos embaciados e a boca já morrente, ali, naquela hora braba, à vista de todo o mundo e dos outros seus namorados, que se esvaíam, sem um consolo nem das suas mãos nem das puas lágrimas, a Tudinha mostrava mesmo que o seu camote preferido era aquele, que primeiro desfeiteou e cortou o negro, por causa dela...
Foi então que um gaúcho gadelhudo, mui alto, canhoto, desprendeu da cintura as boleadeiras e fê-las roncar por cima da cabeça… e quando ia a soltá-las, zunindo, com força pra rebentar as costelas dum boi manso, e que o negro estava cocando o tiro, de facão pronto pra cortar as sogas... nesse mesmo momento e instante a velha Fermina entrou na roda, e ligeira como um gato, varejou no Bonifácio uma chocolateira de água fervendo, que trazia na mão, do chimarrão que estava chupando...
O negro urrou como um touro na capa...; a rumo no mais avançou o braço, e fincou e suspendeu, levantou a velha, estorcendo-se, atravessada no facão até o esse...; ao mesmo tempo, mandado por pulso de homem um bolaço cantou-lhe no tampo da cabeça e logo outro, no costilhar, e o negro caiu, como boi desnucado, de boca aberta, a língua pontuda, mexendo em tremura uma perna, onde a roseta da chilena Unia, miúdo...
Patrício, escuite!
Vi então o que é uma mulher rabiosa...: não há maneia nem buçal que sujeite: é pior que homem!...
A Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro, retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim, espumando e rindo-se, desatinada ¾ bonita, sempre! ¾ ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco ¾ vancê compreende?... ¾ e uma, duas, dez, vinte, cinqüenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca... como quem quer estraçalhar uma causa nojenta... como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!...
Em roda, a gauchada mirava, de sobrancelhas rugadas, porém quieta: ninguém apadrinhou o defunto.
Nisto um sujeito que vinha a meia rédea sofrenou o cavalo quase em cima da gente: era o juiz de paz.
Mais tarde vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a amanonsiar a Tudinha; que ao depois tomara novos amores com outra fulana, uma piguancha de cara chata, beiçuda; e que naquele dia, para se mostrar, trouxera na garupa a novata, às carreiras, só de pirraça, para encanzinar, para tourear a Tudinha, que bem viu, e que apesar dos arrastados de asa daquela moçada e sobretudo do Nadico, que já a convidara para se acolherar com ele, sentira-se picada, agoniada da desfeita que só ela e o negro entendiam bem...; por isso é que ela ficou como cobra que perdeu o veneno...
Escuite.
Até hoje me intriga, isto: como uma morena, tão linda, entregou-se a um negro, tão feio?...
Seria de medo, por ele ser mau?... Seria por bobice de inocente?... Por ele ser forçudo e ela, franzina?... Seria por...
Que, de qualquer forma, ela vingou-se, isso, vingou-se...; mas o resto que ela fez no corpo do negro? Foi como um perdão pedido ao Nadico ou um despique tomado da outra, da piguancha beiçuda?...
Ah! mulheres!...
Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa... tudo é bicho caborteiro...; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!...


domingo, 2 de março de 2008

Projeto para a Turma 104





Sobrevivi... o relato do caso Maria da Penha



Em 1998, o CEJIL-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o
CLADEM-Brasil (Comitê Latino-americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da
Mulher), juntamente com a vítima Maria da Penha Maia Fernandes, encaminharam à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) petição contra o Estado
brasileiro, relativa ao paradigmático caso de violência doméstica por ela sofrido (caso
Maria da Penha n.º 12.051).
As agressões e ameaças foram uma constante durante todo o período em que
Maria da Penha permaneceu casada com o Sr. Heredia Viveiros. Por temor ao então
marido, Penha não se atrevia a pedir a separação, tinha receio de que a situação se
agravasse ainda mais. E foi justamente o que aconteceu em 1983, quando Penha sofreu
uma tentativa de homicídio por parte de seu marido, que atirou em suas costas,
deixando-a paraplégica. Na ocasião, o agressor tentou eximir-se de culpa alegando para
a polícia que se tratava de um caso de tentativa de roubo.
Duas semanas após o atentado, Penha sofreu nova tentativa de assassinato por
parte de seu marido, que desta vez tentou eletrocutá-la durante o banho. Neste momento
Penha decidiu finalmente separar-se.
Conforme apurado junto às testemunhas do processo, o Sr. Heredia Viveiros
teria agido de forma premeditada, pois semanas antes da agressão tentou convencer
Penha a fazer um seguro de vida em seu favor e cinco dias antes obrigou-a a assinar o
documento de venda de seu carro sem que constasse do documento o nome do
comprador. Posteriormente à agressão, Maria da Penha ainda apurou que o marido era
bígamo e tinha um filho em seu país de origem, a Colômbia.
Até a apresentação do caso ante a OEA, passados 15 anos da agressão, ainda não
havia uma decisão final de condenação pelos tribunais nacionais, e o agressor ainda se
encontrava em liberdade. Diante deste fato, as peticionárias denunciaram a tolerância da
Violência Doméstica contra Maria da Penha por parte do Estado brasileiro, pelo fato de
não ter adotado, por mais de quinze anos, medidas efetivas necessárias para processar e
punir o agressor, apesar das denúncias da vítima. A denúncia sobre o caso específico de
Maria da Penha foi também uma espécie de evidência de um padrão sistemático de
omissão e negligência em relação à violência doméstica e familiar contra as mulheres
brasileiras.
Denunciou-se a violação dos artigos 1(1) (Obrigação de respeitar os direitos); 8
(Garantias judiciais); 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção
Americana, dos artigos II e XVIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem (doravante denominada "a Declaração"), bem como dos artigos 3,
4,a,b,c,d,e,f,g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará.
Uma vez que no caso Maria da Penha não haviam sido esgotados os recursos da
jurisdição interna (o caso ainda estava sem uma decisão final), condição imposta pelo
artigo 46(1)(a) da Convenção Americana para a admissibilidade de uma petição,
utilizou-se a exceção prevista pelo inciso (2)(c) do mesmo artigo, que exclui esta
condição nos casos em que houver atraso injustificado na decisão dos recursos internos,
exatamente o que havia acontecido no caso de Penha.
Neste sentido, assim se manifestou a Comissão: “considera conveniente lembrar
aqui o fato inconteste de que a justiça brasileira esteve mais de 15 anos sem proferir
sentença definitiva neste caso e de que o processo se encontra, desde 1997, à espera da
decisão do segundo recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará. A esse respeito, a Comissão considera, ademais, que houve atraso injustificado
na tramitação da denúncia, atraso que se agrava pelo fato de que pode acarretar a
prescrição do delito e, por conseguinte, a impunidade definitiva do perpetrador e a
impossibilidade de ressarcimento da vítima (...)”.
Importa frisar que, à época, o Estado brasileiro não respondeu à denúncia
perante a Comissão.
No ano de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em seu
Informe n.º 54 de 2001, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e
tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, recomendando, entre
outras medidas:
 A finalização do processamento penal do responsável da agressão.
 Proceder uma investigação a fim de determinar a responsabilidade pelas
irregularidades e atrasos injustificados no processo, bem como tomar as
medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes.
 Sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da
agressão, a reparação simbólica e material pelas violações sofridas por Penha
por parte do Estado brasileiro por sua falha em oferecer um recurso rápido e
efetivo.
 E a adoção de políticas públicas voltadas a prevenção, punição e erradicação da
violência contra a mulher.
O caso Maria da Penha foi o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém
do Pará. A utilização deste instrumento internacional de proteção aos direitos humanos
das mulheres e o seguimento das peticionárias perante a Comissão, sobre o
cumprimento da decisão pelo Estado brasileiro, foi decisiva para que o processo fosse
concluído no âmbito nacional e, posteriormente, para que o agressor fosse preso, em
outubro de 2002, quase vinte anos após o crime, poucos meses antes da prescrição da
pena. Entretanto, é necessário ainda, que o Estado brasileiro cumpra com o restante das
recomendações do caso de Maria da Penha. É de direito o que se reivindica e espera que
ocorra.
O relato detalhado do caso pode ser encontrado no livro “Sobrevivi, posso
contar” escrito pela própria Maria da Penha, publicado em 1994, com o apoio do
Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM) e da Secretaria de Cultura do
Estado do Ceará.


Projeto para a Turma 103



O Livro de Fausto



O gabinete do doutor Fausto

Inspirando-se num antigo personagem, um homem quase lendário, o doutor Fausto, Goethe criou um dos mais estranhos livros que a literatura moderna conheceu, misturando fantasias góticas com o primado da ciência. Segue-se uma narrativa dos seus primeiros capítulos do chamado o primeiro Fausto, escrito em 1808.


O Lamento do Doutor Fausto
Quereis sem freio ou visão estreita/ Provar de tudo sem medida."
Goethe - Fausto, 1ª parte, 1808



O Enredo


No afã de superar os conhecimentos de sua época, evoca Fausto espíritos e, por fim, Mefistófeles, o demônio (palavra que significaria, etimologicamente, inimigo da luz) - com o qual negocia viver por vinte e quatro anos sem envelhecer.
Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu próprio sangue, serviria o diabo a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos prazeres durante este tempo, é finalmente ao termo deles levado para o Inferno.
Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.



O laboratório da alquimia

Lá estava o doutor Fausto a lamentar-se. Devorara até então quase todos os livros possíveis, de medicina, de leis, de teologia. Seduziu-se inclusive pela magia para ver se ela lhe alcançava "o império espiritual". Um enorme vazio foi o que restou. Viu-se "um pobre simplório... sábio como dantes, sou!". Pessimista, disse não saber nada direito e que luz alguma podia dar aos homens. Debruçado na sua mesa de trabalho, acabrunhado, contemplava o luar para ver ser a beleza prateada lhe abria um canal, dava-lhe inspiração, um sinal, um atalho qualquer, para o almejado conhecimento. Assim lamuriava-se o personagem-chave da obra-prima de Goethe.


Em Busca de Ar Puro



O estúdio de Goethe

Mas que nada, nem da Lua vinha qualquer ajuda. Confinava-se ele ao "abafador covil" em que morava, cercado pela livralhada, pelas mil tralharias de um alquimista profissional, e por inúmeras velas derretidas. Fora do seu quarto gótico, porém, a vida voltava a reclamar seus direitos. Chegava a primavera. Um ar novo e quente expulsava o triste inverno da Alemanha. Os ruídos da gente jovem e dos camponeses se faziam ouvir por toda a parte no vilarejo. Fausto resolveu sair ao ar livre acompanhado pelo seu discípulo Wagner.
Caminham os dois entre o povo alegre que saudou contente o doutor e seu aprendiz. Lembram-lhe, entre brindes e algazarra, ter ele salvo outrora muitas vidas quando, com coragem, combateu uma desgraçada peste que devastou a região. Nada porém arrancava-o da decepção e do mau humor. Confessou em reservado a Wagner, que talvez ele e o pai tivessem mandado mais gente para ao céu receitando drogas que lhes pareciam bons remédios, dos que eles conseguiram salvar das doenças. Enfim, o doutor Fausto era um desiludido, um niilista.
O Demônio
Então, sentados no campo, à beira do caminho, avistaram ao longe um enorme cão preto. O discípulo não viu nada demais nele. Aos olhos do doutor Fausto porém o animal inteiro brilhava. Chamou o cão para perto de si. Acreditou-o sem dono. Resolveu, porque não, levá-lo para casa. Ao chegar, o bicho tudo focinhou e para tudo rosnou, uivou ou ganiu. Fausto então, cansado da caminhada, sentou-se na sua poltrona e, sabe-se lá a razão, abriu o Novo Testamento.





Fausto, insuflado por Mefistófeles, tenta seduzir a jovem Margarida

Lendo-o, discordou da frase do Evangelho segundo S. João, que na tradução da Bíblia de Lutero dizia: "Im Anfang war das Wort", no princípio era o Verbo! Para Fausto tudo começara com a ação. Ao exclamar isso em voz alta teve a atenção voltada para o cão. Em segundos ele se transformou. Era espantoso.




Aparece Mefistófeles





Mefistófeles, o demônio moderno

Detrás do nevoeiro que, num repente, inundou o quarto, surgiu-lhe Mefistófeles. O próprio Satanás! Apresentou-se vestido como um goliardo, um andarilho medieval. Viera para tramar um pacto de sangue com aquele doutor desesperançado. Pausa. Goethe, neste primeiro encontro de Fausto com o Maligno, tomou-se de cuidados. O seu demônio não tem o visual que dele faziam no Medievo.
Nada de cheiro de enxofre, chifres, rabo ou cascos de bode. É um diabo da época do Iluminismo, um capeta secularizado. Aparenta ser igual aos humanos, ainda que imperando sobre ratos e insetos asquerosos. Trafega na sociedade com o desembaraço de um estudante ou de um fidalgo. Ele estaria atrás de Fausto e de tudo o que ele realizaria até o final do exaustivo livro de Goethe, cuja primeira parte surgiu em 1808. Considerava o homem como uma cigarra pensante, condenado a pousar em tudo, a cheirar coisas imundas, para logo em seguida desejar "as estrelas mais belas e os mais altos prazeres da Terra".
A Energia Satânica
Pois que assim seja! A extraordinária energia satânica incorporada por Fausto desde aquela soturna visita fez dele o símbolo do homem moderno: industrioso, apaixonado pela técnica, voando sobre os montes e as paisagens, um amalucado sem maiores pruridos pelos estragos que faz.
Hoje, quando olhamos ao derredor, vemos que as perplexidades que atormentaram o criador daquele mitológico personagem da modernidade - a mesma mistura de susto e fascínio que ele revelou perante a emergência assombrosa da ciência e da técnica - são as mesmas nossas.
SYMPATHY FOR THE DEVIL
(Mick Jaegger/ Keith Richards)
Rolling Stones
Simpatia pelo Demônio
Por favor, deixe-me apresentar
Sou um homem rico e de bom gosto
Estive por aí por muitos anos
Roubei a alma e destino de muitos homens.
Estava lá quando Jesus Cristo
Teve seu momento de indecisão e dor.
Certifiquei me de que Pilatos
Lavasse suas mãos e selasse seu destino.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome.
Mas o que está te intrigando
É a natureza de meu jogo.
Estava por perto em São Petersburgo
Quando vi que estava na hora de uma mudança.
Matei o Czar e seu ministrosAnastazia gritou em vão.
Montei em um tanqueMantive a posição de General
Quando a guerra relâmpago enfureceu
E os corpos fediam.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome.
Mas o que está te intrigando
É a natureza de meu jogo.
Assisti com alegria
Enquanto seus Reis e Rainhas
Lutaram por dez décadas
Pelos Deuses que criaram.
Gritei alto"Quem matou os Kennedys?
"Quando, no final das contas,Fui eu e você.
Por favor, deixe-me apresentar
Sou um homem rico e de bom gosto.
Deixei armadilhas para os trovadores
Que acabaram mortos antes de alcançar Bombay.
Assim como todo policial é um criminoso
E todos os pecadores são santos
E cabeças são caudas.
Simplesmente me chame de Lúcifer
Porque preciso de algum nome.
Então se encontrar-meSeja cortêz,
Seja simpático e tenha bom gosto
Use de toda etiqueta que conhece
Ou então tomarei sua alma.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome
Mas o que está o confundindo
É a natureza de meu jogo.
(English Version)
Please allow me to introduce myself
Im a man of wealth and taste
Ive been around for a long, long year
Stole many a mans soul and faith
And I was round when jesus christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that pilate
Washed his hands and sealed his fate
Pleased to meet you
Hope you guess my name
But whats puzzling you
Is the nature of my game
I stuck around st. petersburg
When I saw it was a time for a change
Killed the czar and his ministers
Anastasia screamed in vain
I rode a tankHeld a generals rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank
Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeahAh,
whats puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made
I shouted out,
Who killed the kennedys?
When after all
It was you and me
Let me please introduce myself
Im a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadours
Who get killed before they reached bombay
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But whats puzzling youIs the nature of my game, oh yeah, get down, baby
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But whats confusing you
Is just the nature of my game
Just as every cop is a criminal
And all the sinners saintsAs heads is tails
Just call me lucifer
cause Im in need of some restraint
So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
Use all your well-learned politesse
Or Ill lay your soul to waste, um yeah
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, um yeah
But whats puzzling you
Is the nature of my game, um mean it, get down
Woo, whoOh yeah, get on down
Oh yeah
Oh yeah!Tell me baby, whats my name
Tell me honey, can ya guess my name
Tell me baby, whats my name
I tell you one time, youre to blame
Ooo, whoOoo, whoOoo, whoOoo, who, whoOoo, who, whoOoo, who, whoOoo, who, whoOh, yeah
Whats me name
Tell me, baby, whats my name
Tell me, sweetie, whats my name

Projeto para a Turma 102




E SE FOSSE VERDADE?

O ritmo intenso da vida da médica Elizabeth Masterson (Reese Whiterspoon) preocupa seus amigos e familiares. A jovem trabalha dia e noite e tanto cansaço culmina num grave acidente, motivo pelo qual recebe a notícia de que deve tirar férias forçadas até se recuperar. Enquanto isso, o arquiteto David Abbott (Mark Ruffalo) se muda para o apartamento que acabou de alugar. Lá, no entanto, ele encontra uma mulher loira, que diz ser a proprietária do imóvel.

Discussões à parte, os dois acabam se encantando um com o outro. A questão é que a relação entre o casal é um pouco estranha: ela atravessa paredes e ele é o único que consegue enxergá-la. A moça tem certeza que o rapaz sofre de problemas mentais e ele acredita que a nova amiga é um fantasma. Prestes a descobrir o que está realmente acontecendo, Elizabeth e David já estão irremediavelmente apaixonados.

Com orçamento de US$ 58 milhões, E Se Fosse Verdade... é do mesmo diretor de Meninas Malvadas e Sexta-Feira Muito Louca. A história é baseada no livro de Marc Levy. A protagonista Reese Whiterspoon ficou conhecida no cinema por interpretar a patricinha Elle Woods em Legalmente Loira.







Just like heaven
(Robert Smith) Performed by Katie Melua



Show me how you do that trick
The one that makes me scream he said
The one that makes me laugh he said
And threw his arms around my neck
Show me how you do it
And i promise you i promise that
I’ll run away with you
I’ll run away with you

Spinning on that dizzy edge
I kissed his face and kissed his head
And dreamed of all the different ways i had
To make him glow
Why are you so far away, he said
Why won’t you ever know that i’m in love with you
That i’m in love with you

You, soft and only
You,lost and lonely
You, strange as angels
Dancing in the deepest oceans
Twisting in the water
You’re just like a dream
You're just like a dream

Daylight licked me into shape
I must have been asleep for days
And moving lips to breathe his name
I opened up my eyes
And found myself alone alone
Alone above a raging sea
That stole the only boy i loved
And drowned him deep inside of me

You, soft and only
You, lost and lonely
You, just like heaven

You, soft and only
You, lost and lonely
You, just like heaven

sábado, 1 de março de 2008