O Médico e o Monstro
(The Strange Case of Dr. Jekill and Mr. Hyde)
Robert Louis Stevensson
Capítulo 1
O advogado Utterson era um sujeito frio, concentrado, de poucas palavras, reservado, magro, alto, parcimonioso e melancólico, e tendo Richard Enfield, sendo o seu parente distante.
Foram a uma ruazinha de um bairro comercial em Londres, onde próximo havia uma construção sombria de dois andares, cuja única porta, sem campainha nem batente, estava empenada e suja. Era a porta de um laboratório.
Enfield e Utterson começaram a conversar sobre a porta. Aquele narrou que certa vez um homem (o qual Enfield não sabia descrevê-lo perfeitamente) esbarrou em uma menina (que tinha entre oito e dez anos) e passou em cima dela tranqüilamente. Pessoas da família formaram um grupo em torno da menina enquanto o homem continuava a andar. O homem era torturado sendo-lhe dito que se gozava de consideração perderia tudo, que seu nome seria amaldiçoado de um extremo a outro de Londres.
Estipulou-se uma indenização (proposta pelo sujeito estranho) à família: cem libras. Para arranjar o dinheiro, o homem os arrastou àquela porta; tirou uma chave, entrou, voltou com dez libras em ouro e um cheque autêntico assinado com um nome muito conhecido, que figura muitas vezes nos jornais. O homem (odioso e parecido com Satanás, segundo Enfield) disse que ficaria com Enfield até os bancos abrirem e que ele próprio descontaria o cheque.
O advogado Utterson quis saber o nome do indivíduo que atropelou a criança. Chamava-se Hyde. Utterson e Enfield combinaram de não mais referirem-se ao assunto.
Capítulo 2
Utterson regressou ao seu apartamento, foi ao escritório, apanhou do cofre um envelope que continha o testamento do Dr. Jekyll. No testamento, constava que em caso de falecimento de Henry Jekyll todos os seus bens passariam às mãos do seu “amigo e protegido Edward Hyde”, o que indignava o advogado. Este foi encontrar seu amigo Dr. Lanyon. Conversando, o Dr. Lanyon diz que há mais de dez anos Henry Jekyll tornou-se um mistério e começou a trilhar por caminhos errados. Dr. Lanyon, respondendo a Utterson, disse que nunca ouviu a respeito de Hyde.
Em seu leito, o advogado imaginou a situação narrada por Enfield; enfim debateu-se com o problema. E queria ver o rosto de Hyde.
Utterson começou a rondar a ruazinha cheia de lojas. Disse “Se ele é o Sr. Hyde eu serei o Sr. Seek”, fazendo um jogo de palavras com os verbos “to hide” (ocultar) e “to seek” (procurar) em inglês.
Enfim, Hyde dirigia-se com a chave na mão à porta. Encontraram-se. Hyde disse a Utterson que não encontraria o Dr. Jekyll. Mas Utterson ainda não via o rosto de Hyde, que era pálido e baixo. Utterson pediu-lhe para poder ver seu rosto. Os dois olharam-se com firmeza durante alguns instantes.
Utterson foi até a uma casa procurar pelo Dr. Jekyll. Foi atendido por um criado velho, Poole, mas o Dr. Jekyll não estava lá. Poole, em conversa com Utterson, comentou que Hyde tinha a chave da porta e que geralmente entrava e saía pelo laboratório.
Utterson tinha o pressentimento de que Henry Jekyll estava em maus lençóis.
Capítulo 3
Quinze dias depois, Dr. Jekyll — homem grande, bem proporcionado, de rosto liso, beirando os cinqüenta anos — ofereceu um jantar a uns seis velhos amigos.
Utterson perguntou aflito a Jekyll sobre seu testamento. Jekyll queria ter o assunto por encerrado, pedindo no final que caso morresse ajudasse Hyde.
Capítulo 4
Um crime incomum abalou Londres em 18 de outubro. Uma criada, por volta das onze horas, recolheu-se no quarto de sua casa (não longe do rio) para se deitar. Testemunhou dois indivíduos conversando (conversa que em princípio não parecia ser de grande importância), reconhecendo um certo Sr. Hyde em um deles, que repentinamente foi tomado por um ataque de cólera, batendo o pé no chão, brandindo a bengala, agindo como um louco e, enfim, assassinou o outro, pisoteando-o, descarregando-lhe uma chuva de pancadas. Sua bengala foi quebrada ao meio; um pedaço rolou para a sarjeta próxima, e o outro decerto foi levado.
Junto à vítima, havia um envelope selado e fechado para o senhor Utterson, o qual a polícia lhe entregou na manhã seguinte. Utterson foi à delegacia de polícia, aonde o cadáver foi transportado, e reconheceu-o: era Sir. Danvers Carew.
O advogado e o inspetor foram aonde mora o Sr. Hyde. A criada velha estava relutante em deixá-los entrarem, mas assim o fizeram, e encontraram a outra metade da bengala. O policial satisfez-se: confirmou-se que Hyde foi o assassino.
Capítulo 5
Utterson transpôs a porta da casa de Jekyll. Conduzido por Poole, foi ao gabinete de Jekyll, atravessando o anfiteatro de anatomia, outrora freqüentado por estudantes turbulentos, mas agora frio e silencioso.
Jekyll parecia mortalmente enfermo. Estendeu a mão fria a Utterson e cumprimentou-o com uma voz transtornada. Falaram sobre o assassinato e Jekyll jurou nunca mais vê-lo, dando sua palavra de que o riscou do mundo, descartou-se dele.
Utterson queria saber se foi Hyde quem ditou os termos do testamento a Jekyll no que se referia ao seu desaparecimento. Embaraçado e sem abrir a boca, acenou afirmativamente com a cabeça.
Jekyll deixou com Utterson uma carta assinada por Edward Hyde, deixando a seu cargo o que fazer com ela. Utterson deduziu que a carta só poderia ter sido recebida pela porta do laboratório, ou escrita no gabinete.
Utterson retornou à sua casa. Mostrou a Guest, empregado seu e perito em caligrafia, a carta. Guest analisou-a. Disse ser a letra muito singular. Ao compará-la com uma carta de Jekyll para um jantar trazida pela criada, Guest disse que em muitos pontos as caligrafias são idênticas; apenas inclinadas de forma diferente.
Só naquela noite, Utterson foi ver a carta que já havia guardado no cofre. Disse que Henry Jekyll forjou-a para salvar um assassino.
Capítulo 6
Milhares de libras foram oferecidas em recompensa a quem descobrisse quem foi o assassino de Sir Danvers. Com a ausência malévola de Hyde, o Dr. Jekyll passou a ter uma vida nova, retomou relações com amigos, praticava o bem. Durante mais de dois meses, o médico viveu em paz.
Depois, a casa de Jekyll ficou fechada para Utterson. Este resolveu procurar pessoalmente Lanyon mais tarde.
Lanyon teve mudança em sua fisionomia, perdeu a cor saudável, emagreceu, e parecia mais calvo e velho.
Utterson perguntou-lhe sobre Jekyll. Lanyon não queria ouvir sobre ele.
Logo que Utterson chegou à sua casa, escreveu para Jekyll indagando a causa do infeliz rompimento com Lanyon. Recebeu uma resposta extensa dizendo que o desentendimento com Lanyon não tinha conserto. Este, tempo depois, entregava a alma a Deus. Na noite depois do funeral, Utterson, em seu escritório, lia uma carta confidencial a si. Dizia-se que enterrou um amigo e queria saber se isto lhe custaria a perda de um outro. Dentro, havia outro envelope avisando que não deveria ser lido antes da morte ou desaparecimento do Dr. Henry Jekyll. Queria ler, mas a honra profissional e a memória do seu falecido amigo não o permitiram.
Jekyll, ao que parecia, exilava-se mais do que nunca no gabinete ao fundo do laboratório, onde muitas vezes chegava a dormir.
Capítulo 7
Utterson e Enfield passeavam em um domingo pela famosa rua. A porta e as três janelas, elas eram a parte posterior da casa de Jekyll.
No pátio fresco e úmido, chamavam por Jekyll, pois havia uma janela que estava entreaberta. Falaram um pouco a Jekyll sobre sair de casa, mas ele se recusava. Propôs-se que conversassem como estavam. Jekyll sorriu aceitando, mas logo o sorriso desapareceu, surgindo uma expressão de terror. Aconteceu rápido como um relâmpago, pois Jekyll fechou instantaneamente a janela, mas foi o suficiente para deixar Utterson e Enfield com raiva.
Capítulo 8
Certa noite, Poole visitou o Dr. Utterson dizendo-lhe haver uma coisa sórdida. Foram ver o Dr. Jekyll. Este, em seu laboratório, disse a Poole, quando o invocou, que não receberia ninguém. Sua voz parecia muito mudada.
Poole contou que era recebia a tarefa de ir a farmácias buscar medicamentos ao Dr. Jekyll. Conta também que certa vez foi à sala de anatomia, e quando Jekyll o viu chegar, deu uma espécie de grito e fugiu ao gabinete com pressa.
Utterson entendeu que o médico estava com uma doença que deforma o doente, e por isso sua voz se alterava, evitava ver amigos, procurava com ansiedade um remédio.
Para Poole, aquele não era Dr. Jekyll: calculava que fosse o Sr. Hyde.
Utterson ameaçava o Dr. Jekyll de usar a força para entrar, se ele não abrisse a porta. “Por amor de Deus, tenha piedade!” soava a voz de Hyde. Então, arrombaram a porta. No meio do gabinete, reconheceram o corpo contorcido de Edward Hyde jazendo no chão. Procuravam por Jekyll, mas não o encontravam. Não tinha por onde escapar.
Na mesa de trabalho, o advogado abriu um envelope e vários documentos caíram no chão. Ainda que com medo, leu uma carta de Henry Jekyll para si. Ele pedia a Utterson ler a narrativa de Lanyon.
Saíram do laboratório, e Utterson foi ler as duas narrativas em que este mistério seria finalmente explicado.
Capítulo 9
Na narrativa de Lanyon, diz-se que Jekyll escreveu uma carta a Lanyon pedindo-lhe um favor: apanhar uma gaveta com substâncias químicas, em resumo. Lanyon não podia compreender o porquê desse favor, mas o fez em consideração a Jekyll.
Lanyon foi à casa de Jekyll e de lá levou o conteúdo à sua própria casa, onde receberia um enviado de Jekyll. Este indivíduo, vestido ridiculamente, depois de entrar na casa de Lanyon (que o aguardava com uma arma, no caso de precisar defender-se em legítima defesa) e conversar consigo, tomou de uma só vez a fórmula: começou a transformar-se e Lanyon não entendia o que acontecia. Henry Jekyll aparece como um ressuscitado diante de Lanyon.
Lanyon, na narrativa, diz a Utterson que, segundo confissão do próprio Henry Jekyll, a pessoa que havia entrado na casa era conhecida pelo nome de Mr. Hyde e perseguida pelo assassínio de Carew.
Capítulo 10
Henry Jekyll, enfim, confessa, em uma carta, ter utilizado uma fórmula que ocasionou o aparecimento de um eu — Edward Hyde (conceituado por Jekyll como “pura essência maléfica”) — em si. Hyde era repugnante, um sujeito mau, entregue ao pecado. Conta sobre a força que Hyde usava para se manifestar, ter sua liberdade. Finalmente, disse que punha ponto final à infeliz vida do médico infortunado chamado Henry Jekyll.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Projeto para a Turma 102
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