Núcleo Terra Cambará promoveu Workshop de produção de Cinema
Após o seu melhor desempenho em Festivais de Vídeo de Guaíba, o Núcleo Terra Cambará do Colégio Estadual Augusto Meyer investe na formação de seus produtores. Carlos Fernandes Rodrigues, produtor de set da Walper Ruas, de Porto Alegre, visitou a escola no dia 22 de novembro último. Primeiro ele contou como escapou do anti-ciclone que atingiu o estado de Santa Catarina, de onde viera direto para o encontro. Mesmo exausto, Carlinhos dividiu experiências que teve trabalhando para grandes nomes do cinema gaúcho como Beto Souza e Tabajara Ruas. O Núcleo de Vídeo Terra Cambará está promovendo encontros de seus alunos com produtores e atores profissionais visando o desenvolvimento de seus trabalhos. A Cartomante, seu trabalho mais recente, está fase de pós-produção e a estréia está prevista para o Natal. Entre os filmes em que Carlos trabalhou destacam-se Netto Perde Sua Alma, Cerro do Jarau e Netto e o Domador de Cavalos.
O ano de 2008 começou desafiante para o Núcleo Terra Cambará. A divisão em dois setores e a adoção de tema único para cada turma dificultou a manutenção de um trabalho de alto nível. Mesmo assim, o aumento de trabalhos selecionados foi o indicativo de que o Ermo seria muito feliz neste Festival. O Nível estava muito alto. Ponto para o Festival, o seu crescimento em qualidade de material concorrendo é a garantia de sua longa vida. Mas não perdíamos em nada para os demais e nossas produções foram aplaudidíssimas ao final de cada sessão. O Negro Bonifácio fora o mais aplaudido dos nossos, além da risada do Mefisto no final do Fausto que mexeu com a platéia. Veio a Cerimônia de Premiação. O Augusto Meyer era de longe a maior torcida no evento. Já de início saímos ganhando dois troféus Educação pelo Sobrado e Fausto. Este último ainda seria indicado para ator coadjuvante (Richard) e roteiro adaptado. E Se Fosse Verdade? teve ainda duas indicações: ator coadjuvante (Paulo Ricardo) e roteiro adaptado. Mas o grande vencedor fora O Sobrado: além do troféu Educação, ganhou também na categoria roteiro adaptado e foi o terceiro melhor vídeo de ficção. Kelly, que interpretou Bibiana Terra Cambará, foi indicada para melhor atriz. Agora é hora de comemorar. Depois, é hora de tocar os próximos projetos. Parabéns a todos os Cambarás!!
No último dia 08 de outubro saiu a seleção oficial do Festival de Vídeo de Guaiba. Para nós, guaibenses, é de suma importância ter o reconhecimento do povo da nossa terra. Não que estejamos produzindo pra um festival, mas nunca podemos deixar de prestigiar um evento tão próximos de nós. Num ano tão turbulento e ao mesmo tempo tão positivo como o de 2008, a chave de ouro só poderia ser o melhor desempenho do Augusto Meyer na história do Festival de Vídeo Estudantil. Não deu outra: em seis momentos a marca dos Terra Cambará será vista no evento. A grande surpresa foi a aceitação do vídeo "E se Fosse Verdade?", por ser um remake do sucesso hollywoodiano. Mas a forma delicada como o tema da eutanásia é tratado no filme é um diferencial deste trabalho. Destaque também para a excelente atuação de Luan como David, tendo que parecer maluco falando sozinho, de Tamires (eu sempre erro o nome dela) só podendo falar com o Luan e de todo o elenco tendo que fazer de conta que a protagonista não existe. "O Sobrado" foi o projeto mais audacioso do Núcleo no ano de 2007. Gravado em um dia apenas no sítio histórico de Guaíba, os alunos da atual turma 201, fizeram um excelente trabalho de recuperação de Arte. Além da trilha sonora (que pena que não há prêmio pra isso), o ponto alto é a equipe, que é a base do vídeo "Ana Terra", os diálogos faiscantes, quase como um duelo verbal de farrapos, entre Maria Valéria e Licurgo Cambará exigiram muito de Eduardo Posser e Thaiane Rocha. Ele, aliás, já foi indicado para melhor ator em 2006, esperemos que desta vez o "Jack Bauer" não só repita o feito como traga a estatueta. E o negro pachola de Simões Lopes Neto chegou quietinho, sem alarde e foi selecionado: "O Negro Bonifácio" é a primeira incursão do núcleo no gênero western. Não queríamos aquele estilo norte-americano e decidimos ir para o lado bang-bang spaguetti com um bom toque de humor e tradicionalismo. As tiradas humorísticas e a fotografia pintada como um gibi do tempo do onça são o ponto alto deste filme. O grande sobrevivente do ataque terrorista da Coordenadoria ao Núcleo Acadêmico não poderia ficar de fora: "Fausto" de Goethe é o maior clássico da Literatura Gótica, texto de 200 anos, inesgotável! O argumento é fortíssimo e muito difícil de adaptar. Foi o trabalho mais árduo de 2008, mas o empenho de toda a turma 103 fora recompensado, por ora, com a indicação no Festival de Guaíba, com os rasgados elogios nos lugares onde o projeto é apresentado, mesmo sem resultados finais. Nunca pensei que uma turma de primeiro ano do Ensino Médio pudesse digerir e debater esta obra com tamanho interesse. Richard Canabarro está de parabéns, o aluno que sempre foi um terror na escola, com certeza seria um ótimo Mefisto. Pela primeira vez terei o gostinho de competir como diretor de um vídeo: na mostra alternativa, o documentário "Negro" está competindo na sua sub-categoria. Ah...tem o projeto professor "Núcleo de Vídeo Terra Cambará", representado pelo documentário "Noite de Vento, tempo dos Cambarás", que conta nossa trajetória desde 2005. Estarei buscando o bicampeonato!
Pra não dizer que não falei das flores: é uma pena não ver Comida de Mono, primeiro projeto em língua estrangeira do núcleo; Trash - Volume 1, vibrante vídeo sobre meio ambiente com um arzinho de Lost (metralhado pela CRE, se não fosse a crise que me arrancaram as nove turmas de arte, seria o grande candidato nosso a melhor vídeo); e Marias, excelente documentário, mas faltou depoimentos reais. Este foi outro muito prejudicado pela minha saída via canetaço. Ainda tínhamos "Nós somos a América", produzido junto com a 202 e o prof. Cezar Ramirez, na Mostra Alternativa que é muito mais competitiva.
Agora é esperar a noite de sábado, 08 de novembro pra ver o que jurados decidiram. Que seja um dia de Vento.... ...porque o Tempo é dos Cambarás!
Terra Cambará de Guaíba é finalista do Arte na Escola!
Projeto de Escola de Guaíba é o Rio Grande na final de concurso nacional
O projeto do Núcleo de Vídeo Terra Cambará do Colégio Estadual Augusto Meyer foi classificado para a última fase do Concurso Arte na Escola Cidadã. Mesmo restrito a menos turmas no currículo, mas a todo vapor na Escola Aberta , o trabalho coordenado pelo professor Roberto Silva está entre os melhores projetos de ensino de Arte do Brasil.
Foram 1110 projetos inscritos, destes, 435 passaram para a segunda fase. Nesta última, os professores coordenadores dos pólos, pertencentes às grandes universidades do país, selecionaram 103 finalistas. O projeto passou por todas estas etapas e agora espera o resultado final, dia 30 de setembro, em São Paulo. Serão escolhidos vencedores nas categorias: Ensino Fundamental I (séries iniciais); Ensino Fundamental II (séries finais); EJA; Ensino Médio (na qual o Núcleo está concorrendo, junto com outros 14 projetos); e Prêmio Ano Internacional do Planeta Terra.
Atualmente, o Núcleo está focado na sua produção dentro da Escola Aberta. Após inscrever 10 projetos no Festival de Vídeo Estudantil de Guaíba, a equipe do professor Roberto está gravando as cenas do curta “A Cartomante”, adaptação do conto homônimo de Machado de Assis.
CENA 01 – CASA Homem entra acompanhado de uma mulher na sala de um apartamento. O imóvel está vazio. CORRETORA É, David, bem clássico. Me informaram que tem há um problema com a proprietária que impossibilita um contrato longo. DAVID (senta no sofá) Não quero saber de burocracias! Quero ficar com ele. CORRETORA Mas... DAVID Já decidi. CENA 02 – CASA DE DAVID David está em frente à televisão com os pés na mesa de centro, com cara de insone. Ao seu redor várias latas de cerveja vazias. Ele se levanta, chutando latas. Vai até a geladeira, pega uma lata de cerveja e fecha a porta da mesma. MULHER O que você está fazendo aqui? David se assusta e abre a lata que estoura no rosto da mulher. DAVID (assustado) Quem é você? MULHER (brava) Eu perguntei primeiro. David gagueja. MULHER (brava) Perdeu a língua é? O que você está fazendo na minha casa? O que é essa bagunça? David gagueja. MULHER (assustada) Meu Deus! É um assalto? Olha, eu não tenho nada de valor e... DAVID (grita) Não! MULHER (dá um grito) Pegue o que quiser e.. DAVID Espere aí, eu aluguei esse apartamento! Ah...entendi. Eu não acredito que eu caí! MULHER No quê? DAVID No golpe do aluguel. MULHER Olha, vou ligar para a polícia e resolvemos isso de uma vez. (se vira e vai para outra peça) DAVID (indignado) É isso mesmo! Vamos resolver agora e... David chega na outra peça e perde a mulher de vista. DAVID Ué, cadê você? CENA 3 – BANHEIRO David está enrolado numa toalha. O espelho está embassado. Ele limpa o espelho com a mão e vê o reflexo da mulher novamente. MULHER (furiosa) Sai da minha casa! David grita. Olha para trás. Limpa de novo o espelho e não vê ninguém. CENA 4 – BAR David está sentado a mesa com um amigo. DAVID Eu não sei como te dizer isso, Jackson mas.. JACKSON Que tal do início? DAVID Há uma mulher. JACKSON (feliz) Até que enfim! Que ótima notícia! DAVID Não. Não é isso. Há uma mulher morando na minha casa! JACKSON Já está nesse nível! Maravilha! Está começando a viver novamente! DAVID Não (fala alto)! Há uma mulher que aparece e some de repente na minha casa. Jackson estranha. JACKSON Olha, David, acho melhor termos essa conversa no meu consultório. Somos amigos há anos, eu te faço um desconto. DAVID Eu juro, ela é bem real! JACKSON E como ela é? DAVID Baixa, morena, cabelo cacheado, marrenta e com mania de organização. JACKSON E quando você a viu, tinha bebido alguma coisa? DAVID Sim. JACKSON Se não quiser conversar sobre isso no meu consultório, te indico um colega. DAVID (indignado) Ah...pára com isso. JACKSON Está bem. Digamos que essa mulher misteriosa exista mesmo. O que fazemos quando algo assombra a nossa casa? Chamamos um pai de santo. CENA 5 – CASA DO DAVID Um pai de santo joga milho pela casa inteira. Fala em uma língua desconhecida e fuma um charuto. David acompanha o pai de santo. A mulher aparece furiosa. MULHER Eu espero que você limpe isso assim que o preto veio sair! CENA 6 – CASA DE DAVID Agora um pastor evangélico anda de um lado para outro. David está parado e o acompanha com os olhos. A mulher está ao lado de David com os ouvidos tampados. PASTOR (gritando) Por que Jesus é mais forte que tu, demônio! Saia desta casa cristão e volta pros quintos dos inferno que é o teu lugar! MULHER (para David) Fala pra ele que eu não sou surda! DAVID Pastor! PASTOR Por que o templo foi profanado e partido...diga meu filho. DAVID Pode falar mais baixo. Ela está aqui do meu lado. O pastor se assusta. PASTOR O demônio está no teu corpo, irmão! Terei de tirá-lo a força! DAVID (assustado) Oh, não! PASTOR (berrando) Sai deste corpo que não te pertence! (começa a bater em David com a bíblia) David se defende como pode. Começa a empurrar o pastor para a porta da rua. Com muita dificuldade, ele consegue expulsar o sacerdote. David tranca a porta. MULHER Dá pra me explicar o que significa este circo todo? DAVID (dá um grito) Fica longe de mim! MULHER Olha, cara! Eu só quero que vá embora, tá bom? DAVID Meu Deus! Será que você não percebeu ainda? MULHER O quê? DAVID Que você está morta! MULHER (se assusta) Como ousa? DAVID Aliás, já faz um tempo que quero fazer isso. (estende a mão) Eu sou David e você é... A mulher mostra dificuldade para lembrar o nome. Ela vê uma caneca no armário com o nome Elisabeth escrito. MULHER Elisabeth, meu nome é Elisabeth. DAVID Você colou! ELISABETH Não colei não! DAVID Colou sim! ELISABETH Olha, chega! Eu vou ligar pra polícia e vamos acabar com isso. Elisabeth tenta pegar o telefone sem fio, mas não consegue. Ela dá um grito. DAVID Vá para a luz, Elisabeth! ELISABETH Cala a boca! Elisabeth sai e desaparece. CENA 07 – LIVRARIA David está folhando livros. Um homem aparece e toca em seu ombro. HOMEM Procurando algo especial? DAVID Trabalha aqui? HOMEM Dario. (apertam-se as mãos) Trabalho aqui e conheço todos os livros desta livraria. DAVID Ah é? Então me indica um livro que me ensine a expulsar um espírito da minha casa. DARIO Nossa! O caso é sério. (começa a tirar livros da prateleira) Tome esse, mais esse e mais esse. Mas creio que posso ajudá-lo de uma outra forma. CENA 08 – CASA DE DAVID Dario está sentado no sofá. David está em pé. DARIO Hum, não sinto nada. DAVID Ela não está aqui. DARIO Então chama ela. David Chamar ela? DARIO Sim. DAVID Elisabeth! Elisabeth! DARIO Assim acho melhor pegar um travesseiro. DAVID Espera aí! Eu tive uma idéia. David vai até a geladeira e pega uma cerveja. DAVID Eu estou abrindo uma geladíssima lata de cerveja e estou colocando direto na mesa de centro de madeira nobre! Elisabeth aparece. ELISABETH Tu não conheces descansa-copos! DARIO Espere estou sentindo algo. DAVID Ela acabou de chegar. DARIO É, com certeza é uma presença espiritual. Mas que estranho! DAVID O quê? DARIO É o espírito mais vivo que eu já tive contato! DAVID E quantos tu já conheceu? DARIO Dois. Contando com esse. ELISABETH Quanta experiência! DARIO Mas estou certo de uma coisa: ela não está morta. ELISABETH Gostei dele. DAVID Como é que é? DARIO Quanto a você.(vira para David) Cruzes! Cuidado, isso está te matando. ELISABETH (debochada) Hum...temos um segredo em casa! Que foi? Ela te chutou? Pobrezinho. DAVID (quase chorando) Não fala do que tu não sabe! David sai. DARIO Moça, só peço uma coisa: respeite os mortos. Dario sai. CENA 09 – QUARTO Elisabeth entra no quarto. David está sentado olhando pela janela. ELISABETH Olha, me desculpe. Eu não tinha direito de ferir teus sentimentos. David não responde. ELISABETH (preocupada) Como ela era? Faz muito tempo que ela se foi? DAVID Um ano.Parece que foi ontem. Parece que ela esteve aqui há pouco e já vai voltar. Mas ela nunca mais vai voltar! Eu...eu não vou mais vê-la! Ainda é difícil, sabe? Difícil aceitar a vida sem ela. ELISABETH Olha, David, eu não sei mais nem o que é vida. Que tal pararmos de brigar e ajudar-nos uns aos outros. DAVID Tudo bem. ELISABETH Vamos descobrir quem eu sou. CENA 10 – CORREDOR David e Elisabeth batem em várias portas. Todos respondem a mesma coisa.
VIZINHOS Não sei quem era. ELISABETH Nossa! Será que eu era uma criminosa? DAVID (bate na porta) Ou amante de algum político. ELISABETH Eu não era uma vagabunda! A porta se abre. Ouve-se um som estridente de um funk vulgar. Uma mulher vestida de funqueira aparece. VIZINHA (entusiasmada) Oi. DAVID Olá. Sou seu vizinho do andar de cima e gostaria de algumas informações sobre a moça que morava no apartamento antes de mim. VIZINHA Desculpa, mas a vi muito pouco. Ela me parecia estranha, não falava com ninguém. Parecia que fazia questão disso. (se insinua para David) Olha, a minha janela emperrou. Pode me ajudar? DAVID (entendendo o clima) Ah...desculpa! Mas eu não entendo nada de consertos. Tenho que ir. VIZINHA (mais insinuante) Tudo bem! Mas qualquer hora aparece aí para tomar uma caipirinha! David e Elisabeth se viram. A vizinha fecha a porta lentamente. ELISABETH (debochada) Sai que é sua! DAVID Cala a boca! CENA 12 – RUA David e Elisabeth estão andando. DAVID Mas como você não se lembra de nada! ELISABETH Eu não consigo...eu tento e...nada! Um homem cai na calçada. Ouve-se um grito de socorro e um pedido de um médico. Elisabeth pára de andar e olha fixamente para o homem caído no chão. ELISABETH David! DAVID O quê? ELISABETH Temos que ajudá-lo. DAVID Como? ELISABETH Faça exatamente o que eu mandar. DAVID (nervoso) Como é que é? ELISABETH (gritando) Vai! David se abaixa e protege o homem com o corpo. DAVID (falando bem alto) Tudo bem! Eu sou médico! Afastem-se! (falando baixo e medroso) O que eu faço agora? ELISABETH Veja se ele está respirando. DAVID Parece que ele não está conseguindo. ANÔNIMO Falou comigo, cara? DAVID Não! ELISABETH Pelo jeito ele precisa de uma traqueotomia. DAVID Traque o quê? ANÔNIMA Mas que espécie de médico é você? ELISABETH Traqueotomia! DAVID (nervoso) Preciso fazer uma totomia! ELISABETH Traqueotomia! DAVID Xicotomia! ELISABETH Olha, pede uma tampa de caneta. DAVID (nervoso) Uma tampa de caneta, por favor! Um estudante alcança uma tampa de caneta a David que a pega. ELISABETH Agora faça um furo naquela cavidade entre o pescoço e o peito. DAVID Faço um furo na cav...espera aí, eu vou matar o cara! ELISABETH David, confie em mim. Se fizer isso ele vai morrer! DAVID (grita) Uísque! Alguém pode me conseguir um uísque As pessoas ficam se olhando estranhando o pedido. Um mendigo fura a multidão. MENDIGO Moço, isso serve! (estende uma garrafa de cachaça) David bebe todo o líquido da garrafa. Escarra, pega a tampa da caneta e faz o furo no homem caído. O paciente começa a respira na hora. Todos aplaudem. David se levanta feliz. ELISABETH Eu sou médica! DAVID Você é médica! Digo, eu sou médico! Espera aí! Alguém sabe onde é o hospital mais próximo? MENDIGO O Livramento na rua de cima! David e Elisabeth saem correndo. CENA 13 – HOSPITAL David e Elisabeth chegam na recepção.
DAVID (para a recepcionista) Por favor, eu gostaria de uma informação. É sobre uma médica que trabalhou aqui: Dra. Elisabeth. RECEPCIONISTA Dra. Elisabeth? Mastersson? DAVID E ELISABETH Sim! RECEPCIONISTA Ela não trabalha mais conosco. É familiar? ELISABETH Diga que é meu namorado, se não vão te dispensar. DAVID Nós éramos namorados. Estive viajando e estou sem notícias dela. RECEPCIONISTA Um momento por favor. A recepcionista se distancia e pega o telefone. ELISABETH Ela falou naquele tom. DAVID Que tom? ELISABETH Que a gente fala para as famílias quando não há mais o que fazer para salvar o paciente. DAVID Essa não! (olha para Elisabeth) Eu, não sei como te dizer... ELISABETH O quê? DAVID Eu não gostaria de te perder. FRAN É o senhor que quer saber de Elisabeth Mastersson! ELISABETH (grita) Fran! DAVID Fran! Digo, Dra. Fran! FRAN Dra. Francine Couto, prazer. Mas parece que já me conhece! Não sei de onde! DAVID Desculpe, é que Elisabeth me falou muito da senhora. FRAN Venha comigo. CENA 14 – CORREDOR DO HOSPITAL Fran, David e Elisabeth estão andando pelo corredor. ELISABETH Agora eu lembro! A Fran é minha melhor amiga! Eu contava tudo pra ela. A minha vida era este hospital. DAVID Elisabeth dizia que sua vida era o hospital. E que era a sua melhor amiga. FRAN É verdade. Mas o estranho é que ela nunca me falou de você. DAVID Nosso relacionamento era muito recente. (olha para Elisabeth) Fran pára em frente a um quarto e abre a porta. FRAN Então, sinta-se à vontade, senhor David. Elisabeth e David entram no quarto. Lá dentro, os dois se assustam com o que vêm: Elisabeth deitada na cama, em coma. Fran entra no quarto. ELISABETH Agora eu lembro: o acidente! Eu estava saindo daqui quando um caminhão me cortou a frente. Ai...que dor de cabeça! DAVID Desde quando ela está assim? FRAN Um ano. A família já autorizou a retirada dos órgãos. DAVID E ELISABETH Como? FRAN Um ano sem evolução do quadro e a atividade cerebral é nula. Está mais que configurada a morte cerebral. Sinto muito. DAVID (olhando, com os olhos rasos d’água, para o espírito de Elisabeth) Não pode. Não pode tirar ela de mim. FRAN O senhor ficou muito tempo longe, senhor David, a irmã dela assinou os papéis. Eu vou deixar o senhor se despedir dela. Fran sai. ELISABETH Ai meu Deus! E agora! DAVID Eu não sei. CENA 15 – Casa de Abigail Toca o telefone. Uma mulher atende. MULHER Sim. FRAN Senhora Abigail Mastersson, aqui é a Dra. Fran. Estou ligando para falar sobre Elisabeth, é que apareceu um rapaz dizendo ser namorado dela e está contestando a sua autorização. ABIGAIL Como é que é? Elisabeth não tinha namorado nenhum, se tivesse eu saberia. CENA 16 – QUARTO DO HOSPITAL Elisabeth entra e sai de seu corpo. ELISABETH Não está dando certo. Não consigo ficar! Fran entra no quarto com dois seguranças. FRAN Senhor David, eu gostaria de pedir que se retirasse! DAVID Mas o que é isso! FRAN Acabei de ligar para a irmã de Elisabeth, que era a sua única família, e ela nunca soube de nenhum namorado chamado David. DAVID Espere eu posso explicar. Fran faz sinal para os seguranças, que avançam. David se abraça ao corpo de Elisabeth e o levanta isso faz com que a mangueira de oxigênio se rompa. Fran se assusta, os seguranças paralisam. O espírito de Elisabeth começa a desaparecer. ELISABETH David, está acontecendo. Está frio. David! DAVID (olha para o espírito de Elisabeth, que some) Não me deixe. Eu não quero ficar sozinho de novo! (olha para o corpo de Elisabeth e beija seus lábios) David vai largando Elisabeth lentamente, ela abre os olhos devagar. Elisabeth olha para David e não o reconhece, demonstra medo dele. David nota que a moça não sabe quem ele é e se afasta lentamente com uma expressão triste no rosto. Cabisbaixo, ele deixa o quarto. CENA 17 – CASA DE DAVID/ELISABETH Elisabeth chega ao apartamento com uma mala em cada mão. Larga a bagagem no sofá e vai até a cozinha. Pega um copo d’água, bebe. Ao se virar se assusta com David parado na porta. ELISABETH (assustada) Que você quer? DAVID Devolver a chave. Tome. (estende a mão fechada) Elisabeth estende a mão para receber. Sente um arrepio quando as mãos se tocam. David tira a mão de repente. Ela vê em sua mão um molho de chaves e uma tampa de caneta. As lembranças das aventuras de seu espírito ao lado de David vêm à tona. David se vira e começa a sair. ELISABETH David!David se vira. Ela corre para seus braços. Beijam-se.
Dois cavalos passam enfileirados. Um sai da formação. Os cavaleiros se olham, se estranham. Povo na volta da cancha. Uma mulher olha para um cavaleiro, depois para outro.
BLAU Espera aí, vivente! Antes que o índio velho vá desligar a água do mate, me escute: sou Blau Nunes, vaqueano por opção e gaúcho graças a Deus. E vou lhe contar essa história que ocorreu lá pras bandas do Rincão do Terêncio.
CENA 02 – TUDINHA
Moça passa na rua sob o olhar atento de homens que passam no sentido contrário e de outros que estão sentados a uma mesa bebendo.
BLAU (OFF) Tudo começa por causa da Tudinha. A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles pagos. Alta e delgada parecia assim um jerivá ainda novinho, quando balança a copa verde tocada de leve por um vento pouco, da tarde. Tinha os pés pequenos e as mãos mui bem torneadas; cabelo cacheado, as sobrancelhas finas, nariz alinhado. Mas o rebenqueador, o rebenqueador..., eram os olhos!...Os olhos da Tudinha eram assim a modo olhos de veado-virá, assustado: pretos, grandes, com luz dentro, tímidos e ao mesmo tempo haraganos... pareciam olhos que estavam sempre ouvindo.., ouvindo mais, que vendo...Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo; e os lábios da morocha deviam ser macios como treval, doces como mirim, frescos como polpa de guabiju...
CENA 03 – CASA DA TUDINHA Tudinha está em casa com a mãe, no rancho.
BLAU (OFF) Corria à boca pequena que ela era filha do capitão Pereirinha, estancieiro, que só ali, nos Guarás, tinha mais de não sei quantas léguas de campo de lei, povoado, O certo é que o posto em que ela morava com a mãe, a sia Fermina, era um mimo; tinha de um tudo: lavoura, boa cacimba, um rodeíto manso; e a Tudinha tinha cavalo amilhado, só do andar dela, e alguma prata nos preparos.
Um velho chega no rancho.
BLAU (OFF) O velho, às vezes, ia por lá, sestear, tomar um chimarrão...
CENA 04 – Pátio da Carreira
Os cavalos estão enfileirados.
BLAU Pois para a carreira essa, tinha acudido um povaréu imenso.E ela veio, também, com a velha. Velha, é um dizer, porque a sia Fermina ainda fazia um fachadão...Acharam que a cousa era trova de bêbado. E sem ninguém esperar, também apareceu o negro Bonifácio.
CENA 05 – O NEGRO
O Negro Bonifácio anda pela rua de braço com uma mulher. BLAU (OFF) Se o negro era maleva? Cruz! Era um condenado!... mas, taura, isso era, também! Era o índio mais ladino daquelas bandas: mulherengo, contrabandista, pistoleiro. Mas o que mais provocava o estranhamento do povo daquelas bandas era que Bonifácio tinha ferros nos dentes. Diziam que o negro podia comer qualquer cousa graças aos arames que tinha na boca. Outros diziam que aquilo foi uma maldição. Outros que era castigo do tempo das charqueadas. CENA 06 – INTERNA – BAR
O negro, acompanhado de uma outra mulher, entra num bar, quatro homens estão no balcão bebendo. Todos param o que estão fazendo e ficam cuidando o negro e sua mulher. Bonifácio pára em frente ao balcão. Tudinha entra, repara no negro e olha com raiva para ele. Bonifácio se desvencilha da mulher e vai em direção de Tudinha. Fica frente a frente com a moça. Passa a mão pela cabeça dela. Todos no bar se assustam.
BLAU (OFF) Mas o Negro era um debochado! Passar a mão numa moça donzela anssim, na frente de todo mundo! A la puxa!
Bonifácio sorri. Tudinha se irrita e lhe dá um tapa no rosto.
BONIFÁCIO Isso é o que eu estou pensando?
TUDINHA (irritada) Isso mesmo! É um duelo, e de adaga!
BONIFÁCIO (Ri) Como posso aceitar um duelo com uma chinoca!
Um homem grita no bar
HOMEM Pos tomo como meu o desafio!
Bonifácio vai em direção ao homem. Olha para ele com tom ameaçador.
BONIFÁCIO Nadico! Entonces queres um peleia comigo? Esquecestes porque teu pai, o Antunes gordo, é rengo?
Nadico começa a tremer.
TUDINHA (grita) Já que é difícil uma peleia, mudo minha proposta: uma carreira!
CENA 07 – CARREIRA
Os cavalos estão emparelhados. Tudinha fica a frente dos dois. Olha fixa para Nadico e depois para Bonifácio. Tudinha tira um lenço do colo e o deixa cair ao chão. Quando este toca o solo, os cavalarianos disparam. Eles seguem parelhos, Nadico, com olhar amedrontado, olha para Bonifácio, que sorri. O brilho do aparelho dentário de Bonifácio assusta Nadico que dá um esporaço profundo em seu cavalo que relincha. O Tordilho de Nadico dispara e vence a carreira. Bonifácio chega, sorridente, já desacelerando o pingo. Nadico olha assutado para ele.
NADICO Por que estás rindo, negro? Perdeste!
BONIFÁCIO (debochado, olha para Tudinha) De noite, trago as onças que apostei.
CENA 08 – INT/ BAR
Nadico, Tudinha e Siá Firmina bebem felizes no balcão. Entra Bonifácio.
BLAU (OFF) No barulho das saúdes e das caçoadas, quando todos se divertiam, foi que apareceu aquele negro excomungado, para aguar o pagode. Trazia na mão um lenço de sequilhos, que estendeu a Tudinha: havia perdido, pagava... A morocha parou em meio um riso que estava rindo e firmou nele uns olhos atravessados, esquisitos, olhos como pra gente que já os conhecesse.., e como sentiu que o caso estava malparado, para evitar o desaguisado.
TUDINHA (sem olhar para Bonifácio) Entrega os três quartos de onças pra minha mãe.
BONIFÁCIO (furioso) Eu sou teu negro, de cambão!... mas não piá da china velha! Toma! (tira o saco de moedas da guaiaca e o atira na mesa).
Nadico pega o saco de moedas e atira na cara de Bonifácio. O Negro saca o facão e Nadico também. Bonifácio olha para os lados e vê mais quatro na sua volta.
BLAU (OFF) Vinte ferros faiscaram; era o Nadico, eram os outros namorados da Tudinha e eram outros que tinham contas a ajustar com aquele tição atrevido. Bonifácio defende uma investida de facão. Nadico acaba lhe acertando um golpe no pescoço. O Negro cai e um bolo de homens se atira em cima dele. Numa explosão, Bonifácio joga seus oponentes longe. Um gaúcho tira uma boleadeira da guaiaca, gira e atira em direção ao Negro. Bonifácio desvia e o objeto acerta o bolicheiro. Cambaleante, Bonifácio se dirige a Nadico, que lhe ataca de facão novamente. Bonifácio defende, sorri, o brilho do aparelho do negro assusta Nadico, que paralisa. Bonifácio lhe dá um golpe cruzado de facão que o faz cambalear. Tudinha corre para acudir Nadico, que dá o último suspiro em seus braços. O negro se dirige a Tudinha. Uma mão pega uma chaleira. Um golpe de água atinge Bonifácio que cai urrando de dor. Siá Firmina está em pé com a chaleira vazia na mão. Bonifácio se levanta furioso, crava o facão na velha, a levanta, a gira e a joga no chão ao lado de Tudinha. Tudinha começa mudar o seu semblante para o de uma pessoa enlouquecida.
BLAU (off) A Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro, retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim, espumando e rindo-se, desatinada um pouco bonita, sempre! um pouco ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco um pouco vancê compreende?... um pouco e uma, duas, dez, vinte, cinqüenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca... como quem quer estraçalhar uma causa nojenta... como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!... Os Gaúchos na volta ficam paralisados de horror diante da cena.
CENA 09 – EXT/ FIGUEIRA.
Tudinha e Bonifácio estão abraçados ao pé de uma figueira.
BLAU (OFF) Mais tarde vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a arreganhar a Tudinha; Bonifácio está com outra mulher. Tudinha se atrevessa na frente deles. Ele a desdenha e segue adiante.
BLAU (OFF) Que ao depois tomara novos amores com outra fulana, uma piguancha de cara chata, beiçuda; e que naquele dia, para se mostrar, trouxera na garupa a novata, às carreiras, só de pirraça, para encanzinar, para tourear a Tudinha, que bem viu, e que apesar dos arrastados de asa daquela moçada e sobretudo do Nadico, que já a convidara para se acolherar com ele, sentira-se picada, agoniada da desfeita que só ela e o negro entendiam bem...; por isso é que ela ficou como cobra que perdeu o veneno...
Blau termina um chimarrão, olha para a tela.
BLAU Até hoje me intriga, isto: como uma morena, tão linda, entregou-se a um negro, tão feio?...Seria de medo, por ele ser mau?... Seria por bobice de inocente?... Por ele ser forçudo e ela, franzina?... Ah! mulheres!...Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa... tudo é bicho caborteiro...; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!. Blau sai.
Se o negro era maleva? Cruz! Era um condenado!... mas, taura, isso era, também! Quando houve a carreira grande, do picaço do major Terêncio e o tordilho do Nadico (filho do Antunes gordo, um que era rengo), quando houve a carreira, digo, foi que o negro mostrou mesmo pra o que prestava...; mas foi caipora. Escuite. A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles pagos. Um cajetilha da cidade duma vez que a viu botou-lhe uns versos mui lindos — pro caso — que tinha um que dizia que ela era uma "............................................... chinoca airosa, Lindaça como o sol, fresca como uma rosa!... E o sujeito quis retouçar, porém ela negou-lhe o estribo, porque já trazia mais de quatro pelo beiço, que eram dali, da querência, e aquele tal dos versos era teatino... Alta e delgada, parecia assim um jerivá ainda novinho, quando balança a copa verde tocada de leve por um vento pouco, da tarde. Tinha os pés pequenos e as mãos mui bem torneadas; cabelo cacheado, as sobrancelhas finas, nariz alinhado. Mas o rebenqueador, o rebenqueador..., eram os olhos!... Os olhos da Tudinha eram assim a modo olhos de veado-virá, assustado: pretos, grandes, com luz dentro, tímidos e ao mesmo tempo haraganos... pareciam olhos que estavam sempre ouvindo.., ouvindo mais, que vendo... Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo; e os lábios da morocha deviam ser macios como treval, doces como mirim, frescos como polpa de guabiju... E apesar de arisca, era foliona e embuçalava um cristão, pelo só falar, tão cativo... No mais, buenaça, sem entono; e tinha de que, porque corria à boca pequena que ela era filha do capitão Pereirinha, estancieiro, que só ali, nos Guarás, tinha mais de não sei quantas léguas de campo de lei, povoado, O certo é que o posto em que ela morava com a mãe, a sia Fermina, era um mimo; tinha de um tudo: lavoura, boa cacimba, um rodeíto manso; e a Tudinha tinha cavalo amilhado, só do andar dela, e alguma prata nos preparos. Parecenças, isso, tinha, e não pouco, com a gente do capitão... O velho, às vezes, ia por lá, sestear, tomar um chimarrão... Pois para a carreira essa, tinha acudido um povaréu imenso. E ela veio, também, com a velha. Velha, é um dizer, porque a sia Fermina ainda fazia um fachadão... E deu o caso que os quatro embeiçados também vieram, e um, o mais de todos, era o Nadico. E sem ninguém esperar, também apareceu o negro Bonifácio. É assim que o diabo as arma... Escuite. O negro não vinha por ela, não; antes mais por farrear, jogar e beber: ele era um perdidaço pela cachaça e pelo truco e pela taba. E bem montado, vinha, num bagual lobuno rabicano, de machinhos altos, peito de pomba e orelhas finas, de tesoura; mui bem tosado a meio cogotilho, e de cola atada, em três tranças, bem alto, onde canta o galo!... E na garupa, mui refestelada, trazia uma chirua, com ar de querendona... Eta! negro pachola! De chapéu de aba larga, botado no cocuruto da cabeça e preso num barbicacho de borlas morrudas, passado pelo nariz; no pescoço um lenço colorado, com o nó republicano; na cintura um tirador de couro de lontra debruado de tafetá azul e mais cheio de cortados do que manchas tem um boi salino! E na cintura, atravessado com entono, um facão de três palmos, de conta. Na pabulagem, andava sozinho: quando falava, era alto e grosso e sem olhar para ninguém. Era um governo, o negro! Ora bem; depois de se mostrar um pouco, o negro apeou a chirua e já meio entropigaitado começou a pastorejar a Tudinha... e tirando-se dos seus cuidados encostou o cavalo rente no dela e aí no mais, sem um ¾ Deus te salve! ¾ sacudiu-lhe um envite para uma paradita na carreira grande. A piguancha relanceou os seus olhos de veado assustado e não se deu por achada; ele repetiu o convite da aposta e ela então ¾ depois explicou ¾ de puro medo aceitou, devendo ganhar uma libra de doces, se ganhasse o tordilho. O tordilho era o do Nadico. Ficou fechado o trato. O negro ¾ era ginetaço! ¾ deu de rédea no lobuno, que virou direito, nos dois pés, e já lhe cravou as chilenas, grandes como um pires, e saiu escaramuçando, meio ladeado! Os quatro brancos se olharam… o Nadico estava esverdeado, como defunto passado... A Tudinha pegou logo a caturritar, e a cousa foi passando, como esquecida. Mas, quê!... o negro estava jurado... Escuite. Entraram na cancha os parelheiros, todos dois pisando na ponta do casco, mui bem compostos e lindos, de se lavar com um bochecho d’água. Fizeram as partidas; largaram; correram: ganhou, de fiador, o do Nadico, o tordilho. Depois rompeu um vozerio, a gente desparramou-se, parecia um formigueiro desmanchado; as parcerias se juntaram, uns pagavam, outros questionavam.... mas tudo se foi arreglando em ordem, porque ninguém foi capaz de apontar mau jogo. E foi-se tomar um vinho que os donos da carreira ofereceram, como gaúchos de alma grande, principalmente o major Terêncio, que era o perdedor. E a Tudinha lá foi, de charola. No barulho das saúdes e das caçoadas, quando todos se divertiam, foi que apareceu aquele negro excomungado, para aguar o pagode. Esbarrou o cavalo na frente do boliche; trazia na mão um lenço de sequilhos, que estendeu a Tudinha: havia perdido, pagava... A morocha parou em meio um riso que estava rindo e firmou nele uns olhos atravessados, esquisitos, olhos como pra gente que já os conhecesse.., e como sentiu que o caso estava malparado, para evitar o desaguisado, disse: ¾ Faz favor de entregar à mamãe, sim?!... O negro arreganhou os beiços, mostrando as canjicas, num pouco caso e repostou: ¾Ora, misturada!..., eu sou teu negro, de cambão!... mas não piá da china velha! Toma! E estendeu-lhe o braço, oferecendo o atado dos doces. Aqui, o Nadico manoteou e no soflagrante sopesou a trouxinha e sampou com ela na cara do muçum. Amigo! Virge’ nossa senhora! Num pensamento o negro boleou a perna, descascou o facão e se veio!... O lobuno refugou, bufando. Que peleia mais linda! Vinte ferros faiscaram; era o Nadico, eram os outros namorados da Tudinha e eram outros que tinham contas a ajustar com aquele tição atrevido. Perto do negro Bonifácio, sentado sobre um barril, sem ter nada que ver no angu, estava um paisano tocando viola: o negro ¾ pra fazer boca, o malvado! ¾ largou-lhe um revés, tão bem puxado, que atorou os dedos do coitado e o encordoamento e afundou o tampo do estrumento!... Fechou o salseiro. O Nadico mandou a adaga e atravessou a pelanca do pescoço do negro, roçando na veia artéria; o major tocou-lhe fogo, de pistola, indo a bala, de refilão, lanhar-lhe uma perna.., o ventana quadrava o corpo, e rebatia os talhos e pontaços que lhe meneavam sem pena. E calado, estava; só se via no carão preto o branco dos olhos, fuzilando... Ai!... Foi um grito doido da Tudinha... e já se viu o Nadico testavilhar e cair, aberto na barriga, com a buchada de fora, golfando sangue!... No meio do silêncio que se fez, o negro ainda gritou: ¾ Come agora os meus sobejos!… Depois, roncou, tal e qual como um porco acuado... e então, foi uma cousa bárbara!... Em quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando outros, esgaravatando outros, enquanto o diabo esfrega o olho, o chão ficou estivado de gente estropiada, espirrando a sangueira naquele reduto. é verdade também que ele estava todo esfuracado: a cara, os braços, a camisa, o tirador, as pernas, tinham mais lanhos que a picanha de um reiúno empacador: mas não quebrava o corincho, o trabuzana! Aquilo seria por obra dalguma oração forte, que ele tinha, cosida no corpo. A esse tempo, era tudo um alarido pelo acampamento; de todos os lados chovia gente no lugar da briga. A Tudinha, agarrada ao Nadico, com a cabeça pousando-lhe no colo, beijando-lhe ela os olhos embaciados e a boca já morrente, ali, naquela hora braba, à vista de todo o mundo e dos outros seus namorados, que se esvaíam, sem um consolo nem das suas mãos nem das puas lágrimas, a Tudinha mostrava mesmo que o seu camote preferido era aquele, que primeiro desfeiteou e cortou o negro, por causa dela... Foi então que um gaúcho gadelhudo, mui alto, canhoto, desprendeu da cintura as boleadeiras e fê-las roncar por cima da cabeça… e quando ia a soltá-las, zunindo, com força pra rebentar as costelas dum boi manso, e que o negro estava cocando o tiro, de facão pronto pra cortar as sogas... nesse mesmo momento e instante a velha Fermina entrou na roda, e ligeira como um gato, varejou no Bonifácio uma chocolateira de água fervendo, que trazia na mão, do chimarrão que estava chupando... O negro urrou como um touro na capa...; a rumo no mais avançou o braço, e fincou e suspendeu, levantou a velha, estorcendo-se, atravessada no facão até o esse...; ao mesmo tempo, mandado por pulso de homem um bolaço cantou-lhe no tampo da cabeça e logo outro, no costilhar, e o negro caiu, como boi desnucado, de boca aberta, a língua pontuda, mexendo em tremura uma perna, onde a roseta da chilena Unia, miúdo... Patrício, escuite! Vi então o que é uma mulher rabiosa...: não há maneia nem buçal que sujeite: é pior que homem!... A Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro, retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim, espumando e rindo-se, desatinada ¾ bonita, sempre! ¾ ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco ¾ vancê compreende?... ¾ e uma, duas, dez, vinte, cinqüenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca... como quem quer estraçalhar uma causa nojenta... como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!... Em roda, a gauchada mirava, de sobrancelhas rugadas, porém quieta: ninguém apadrinhou o defunto. Nisto um sujeito que vinha a meia rédea sofrenou o cavalo quase em cima da gente: era o juiz de paz. Mais tarde vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a amanonsiar a Tudinha; que ao depois tomara novos amores com outra fulana, uma piguancha de cara chata, beiçuda; e que naquele dia, para se mostrar, trouxera na garupa a novata, às carreiras, só de pirraça, para encanzinar, para tourear a Tudinha, que bem viu, e que apesar dos arrastados de asa daquela moçada e sobretudo do Nadico, que já a convidara para se acolherar com ele, sentira-se picada, agoniada da desfeita que só ela e o negro entendiam bem...; por isso é que ela ficou como cobra que perdeu o veneno... Escuite. Até hoje me intriga, isto: como uma morena, tão linda, entregou-se a um negro, tão feio?... Seria de medo, por ele ser mau?... Seria por bobice de inocente?... Por ele ser forçudo e ela, franzina?... Seria por... Que, de qualquer forma, ela vingou-se, isso, vingou-se...; mas o resto que ela fez no corpo do negro? Foi como um perdão pedido ao Nadico ou um despique tomado da outra, da piguancha beiçuda?... Ah! mulheres!... Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa... tudo é bicho caborteiro...; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!...
Em 1998, o CEJIL-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o CLADEM-Brasil (Comitê Latino-americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher), juntamente com a vítima Maria da Penha Maia Fernandes, encaminharam à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) petição contra o Estado brasileiro, relativa ao paradigmático caso de violência doméstica por ela sofrido (caso Maria da Penha n.º 12.051). As agressões e ameaças foram uma constante durante todo o período em que Maria da Penha permaneceu casada com o Sr. Heredia Viveiros. Por temor ao então marido, Penha não se atrevia a pedir a separação, tinha receio de que a situação se agravasse ainda mais. E foi justamente o que aconteceu em 1983, quando Penha sofreu uma tentativa de homicídio por parte de seu marido, que atirou em suas costas, deixando-a paraplégica. Na ocasião, o agressor tentou eximir-se de culpa alegando para a polícia que se tratava de um caso de tentativa de roubo. Duas semanas após o atentado, Penha sofreu nova tentativa de assassinato por parte de seu marido, que desta vez tentou eletrocutá-la durante o banho. Neste momento Penha decidiu finalmente separar-se. Conforme apurado junto às testemunhas do processo, o Sr. Heredia Viveiros teria agido de forma premeditada, pois semanas antes da agressão tentou convencer Penha a fazer um seguro de vida em seu favor e cinco dias antes obrigou-a a assinar o documento de venda de seu carro sem que constasse do documento o nome do comprador. Posteriormente à agressão, Maria da Penha ainda apurou que o marido era bígamo e tinha um filho em seu país de origem, a Colômbia. Até a apresentação do caso ante a OEA, passados 15 anos da agressão, ainda não havia uma decisão final de condenação pelos tribunais nacionais, e o agressor ainda se encontrava em liberdade. Diante deste fato, as peticionárias denunciaram a tolerância da Violência Doméstica contra Maria da Penha por parte do Estado brasileiro, pelo fato de não ter adotado, por mais de quinze anos, medidas efetivas necessárias para processar e punir o agressor, apesar das denúncias da vítima. A denúncia sobre o caso específico de Maria da Penha foi também uma espécie de evidência de um padrão sistemático de omissão e negligência em relação à violência doméstica e familiar contra as mulheres brasileiras. Denunciou-se a violação dos artigos 1(1) (Obrigação de respeitar os direitos); 8 (Garantias judiciais); 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção Americana, dos artigos II e XVIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (doravante denominada "a Declaração"), bem como dos artigos 3, 4,a,b,c,d,e,f,g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará. Uma vez que no caso Maria da Penha não haviam sido esgotados os recursos da jurisdição interna (o caso ainda estava sem uma decisão final), condição imposta pelo artigo 46(1)(a) da Convenção Americana para a admissibilidade de uma petição, utilizou-se a exceção prevista pelo inciso (2)(c) do mesmo artigo, que exclui esta condição nos casos em que houver atraso injustificado na decisão dos recursos internos, exatamente o que havia acontecido no caso de Penha. Neste sentido, assim se manifestou a Comissão: “considera conveniente lembrar aqui o fato inconteste de que a justiça brasileira esteve mais de 15 anos sem proferir sentença definitiva neste caso e de que o processo se encontra, desde 1997, à espera da decisão do segundo recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. A esse respeito, a Comissão considera, ademais, que houve atraso injustificado na tramitação da denúncia, atraso que se agrava pelo fato de que pode acarretar a prescrição do delito e, por conseguinte, a impunidade definitiva do perpetrador e a impossibilidade de ressarcimento da vítima (...)”. Importa frisar que, à época, o Estado brasileiro não respondeu à denúncia perante a Comissão. No ano de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em seu Informe n.º 54 de 2001, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, recomendando, entre outras medidas: A finalização do processamento penal do responsável da agressão. Proceder uma investigação a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados no processo, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes. Sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da agressão, a reparação simbólica e material pelas violações sofridas por Penha por parte do Estado brasileiro por sua falha em oferecer um recurso rápido e efetivo. E a adoção de políticas públicas voltadas a prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher. O caso Maria da Penha foi o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém do Pará. A utilização deste instrumento internacional de proteção aos direitos humanos das mulheres e o seguimento das peticionárias perante a Comissão, sobre o cumprimento da decisão pelo Estado brasileiro, foi decisiva para que o processo fosse concluído no âmbito nacional e, posteriormente, para que o agressor fosse preso, em outubro de 2002, quase vinte anos após o crime, poucos meses antes da prescrição da pena. Entretanto, é necessário ainda, que o Estado brasileiro cumpra com o restante das recomendações do caso de Maria da Penha. É de direito o que se reivindica e espera que ocorra. O relato detalhado do caso pode ser encontrado no livro “Sobrevivi, posso contar” escrito pela própria Maria da Penha, publicado em 1994, com o apoio do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM) e da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.
Inspirando-se num antigo personagem, um homem quase lendário, o doutor Fausto, Goethe criou um dos mais estranhos livros que a literatura moderna conheceu, misturando fantasias góticas com o primado da ciência. Segue-se uma narrativa dos seus primeiros capítulos do chamado o primeiro Fausto, escrito em 1808.
O Lamento do Doutor Fausto Quereis sem freio ou visão estreita/ Provar de tudo sem medida." Goethe - Fausto, 1ª parte, 1808
O Enredo
No afã de superar os conhecimentos de sua época, evoca Fausto espíritos e, por fim, Mefistófeles, o demônio (palavra que significaria, etimologicamente, inimigo da luz) - com o qual negocia viver por vinte e quatro anos sem envelhecer. Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu próprio sangue, serviria o diabo a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos prazeres durante este tempo, é finalmente ao termo deles levado para o Inferno. Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.
O laboratório da alquimia
Lá estava o doutor Fausto a lamentar-se. Devorara até então quase todos os livros possíveis, de medicina, de leis, de teologia. Seduziu-se inclusive pela magia para ver se ela lhe alcançava "o império espiritual". Um enorme vazio foi o que restou. Viu-se "um pobre simplório... sábio como dantes, sou!". Pessimista, disse não saber nada direito e que luz alguma podia dar aos homens. Debruçado na sua mesa de trabalho, acabrunhado, contemplava o luar para ver ser a beleza prateada lhe abria um canal, dava-lhe inspiração, um sinal, um atalho qualquer, para o almejado conhecimento. Assim lamuriava-se o personagem-chave da obra-prima de Goethe.
Em Busca de Ar Puro
O estúdio de Goethe
Mas que nada, nem da Lua vinha qualquer ajuda. Confinava-se ele ao "abafador covil" em que morava, cercado pela livralhada, pelas mil tralharias de um alquimista profissional, e por inúmeras velas derretidas. Fora do seu quarto gótico, porém, a vida voltava a reclamar seus direitos. Chegava a primavera. Um ar novo e quente expulsava o triste inverno da Alemanha. Os ruídos da gente jovem e dos camponeses se faziam ouvir por toda a parte no vilarejo. Fausto resolveu sair ao ar livre acompanhado pelo seu discípulo Wagner. Caminham os dois entre o povo alegre que saudou contente o doutor e seu aprendiz. Lembram-lhe, entre brindes e algazarra, ter ele salvo outrora muitas vidas quando, com coragem, combateu uma desgraçada peste que devastou a região. Nada porém arrancava-o da decepção e do mau humor. Confessou em reservado a Wagner, que talvez ele e o pai tivessem mandado mais gente para ao céu receitando drogas que lhes pareciam bons remédios, dos que eles conseguiram salvar das doenças. Enfim, o doutor Fausto era um desiludido, um niilista. O Demônio Então, sentados no campo, à beira do caminho, avistaram ao longe um enorme cão preto. O discípulo não viu nada demais nele. Aos olhos do doutor Fausto porém o animal inteiro brilhava. Chamou o cão para perto de si. Acreditou-o sem dono. Resolveu, porque não, levá-lo para casa. Ao chegar, o bicho tudo focinhou e para tudo rosnou, uivou ou ganiu. Fausto então, cansado da caminhada, sentou-se na sua poltrona e, sabe-se lá a razão, abriu o Novo Testamento.
Fausto, insuflado por Mefistófeles, tenta seduzir a jovem Margarida
Lendo-o, discordou da frase do Evangelho segundo S. João, que na tradução da Bíblia de Lutero dizia: "Im Anfang war das Wort", no princípio era o Verbo! Para Fausto tudo começara com a ação. Ao exclamar isso em voz alta teve a atenção voltada para o cão. Em segundos ele se transformou. Era espantoso.
Aparece Mefistófeles
Mefistófeles, o demônio moderno
Detrás do nevoeiro que, num repente, inundou o quarto, surgiu-lhe Mefistófeles. O próprio Satanás! Apresentou-se vestido como um goliardo, um andarilho medieval. Viera para tramar um pacto de sangue com aquele doutor desesperançado. Pausa. Goethe, neste primeiro encontro de Fausto com o Maligno, tomou-se de cuidados. O seu demônio não tem o visual que dele faziam no Medievo. Nada de cheiro de enxofre, chifres, rabo ou cascos de bode. É um diabo da época do Iluminismo, um capeta secularizado. Aparenta ser igual aos humanos, ainda que imperando sobre ratos e insetos asquerosos. Trafega na sociedade com o desembaraço de um estudante ou de um fidalgo. Ele estaria atrás de Fausto e de tudo o que ele realizaria até o final do exaustivo livro de Goethe, cuja primeira parte surgiu em 1808. Considerava o homem como uma cigarra pensante, condenado a pousar em tudo, a cheirar coisas imundas, para logo em seguida desejar "as estrelas mais belas e os mais altos prazeres da Terra". A Energia Satânica Pois que assim seja! A extraordinária energia satânica incorporada por Fausto desde aquela soturna visita fez dele o símbolo do homem moderno: industrioso, apaixonado pela técnica, voando sobre os montes e as paisagens, um amalucado sem maiores pruridos pelos estragos que faz. Hoje, quando olhamos ao derredor, vemos que as perplexidades que atormentaram o criador daquele mitológico personagem da modernidade - a mesma mistura de susto e fascínio que ele revelou perante a emergência assombrosa da ciência e da técnica - são as mesmas nossas.
SYMPATHY FOR THE DEVIL
(Mick Jaegger/ Keith Richards)
Rolling Stones Simpatia pelo Demônio
Por favor, deixe-me apresentar
Sou um homem rico e de bom gosto
Estive por aí por muitos anos
Roubei a alma e destino de muitos homens.
Estava lá quando Jesus Cristo
Teve seu momento de indecisão e dor.
Certifiquei me de que Pilatos
Lavasse suas mãos e selasse seu destino.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome.
Mas o que está te intrigando
É a natureza de meu jogo.
Estava por perto em São Petersburgo
Quando vi que estava na hora de uma mudança.
Matei o Czar e seu ministrosAnastazia gritou em vão.
Montei em um tanqueMantive a posição de General
Quando a guerra relâmpago enfureceu
E os corpos fediam.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome.
Mas o que está te intrigando
É a natureza de meu jogo.
Assisti com alegria
Enquanto seus Reis e Rainhas
Lutaram por dez décadas
Pelos Deuses que criaram.
Gritei alto"Quem matou os Kennedys?
"Quando, no final das contas,Fui eu e você.
Por favor, deixe-me apresentar
Sou um homem rico e de bom gosto.
Deixei armadilhas para os trovadores
Que acabaram mortos antes de alcançar Bombay.
Assim como todo policial é um criminoso
E todos os pecadores são santos
E cabeças são caudas.
Simplesmente me chame de Lúcifer
Porque preciso de algum nome.
Então se encontrar-meSeja cortêz,
Seja simpático e tenha bom gosto
Use de toda etiqueta que conhece
Ou então tomarei sua alma.
Prazer em conhecê-lo
Espero que adivinhe meu nome
Mas o que está o confundindo
É a natureza de meu jogo.
(English Version)
Please allow me to introduce myself
Im a man of wealth and taste
Ive been around for a long, long year
Stole many a mans soul and faith
And I was round when jesus christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that pilate
Washed his hands and sealed his fate
Pleased to meet you
Hope you guess my name
But whats puzzling you
Is the nature of my game
I stuck around st. petersburg
When I saw it was a time for a change
Killed the czar and his ministers
Anastasia screamed in vain
I rode a tankHeld a generals rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank
Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeahAh,
whats puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made
I shouted out,
Who killed the kennedys?
When after all
It was you and me
Let me please introduce myself
Im a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadours
Who get killed before they reached bombay
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But whats puzzling youIs the nature of my game, oh yeah, get down, baby
O ritmo intenso da vida da médica Elizabeth Masterson (Reese Whiterspoon) preocupa seus amigos e familiares. A jovem trabalha dia e noite e tanto cansaço culmina num grave acidente, motivo pelo qual recebe a notícia de que deve tirar férias forçadas até se recuperar. Enquanto isso, o arquiteto David Abbott (Mark Ruffalo) se muda para o apartamento que acabou de alugar. Lá, no entanto, ele encontra uma mulher loira, que diz ser a proprietária do imóvel.
Discussões à parte, os dois acabam se encantando um com o outro. A questão é que a relação entre o casal é um pouco estranha: ela atravessa paredes e ele é o único que consegue enxergá-la. A moça tem certeza que o rapaz sofre de problemas mentais e ele acredita que a nova amiga é um fantasma. Prestes a descobrir o que está realmente acontecendo, Elizabeth e David já estão irremediavelmente apaixonados.
Com orçamento de US$ 58 milhões, E Se Fosse Verdade... é do mesmo diretor de Meninas Malvadas e Sexta-Feira Muito Louca. A história é baseada no livro de Marc Levy. A protagonista Reese Whiterspoon ficou conhecida no cinema por interpretar a patricinha Elle Woods em Legalmente Loira.
Just like heaven
(Robert Smith) Performed by Katie Melua
Show me how you do that trick The one that makes me scream he said The one that makes me laugh he said And threw his arms around my neck Show me how you do it And i promise you i promise that I’ll run away with you I’ll run away with you
Spinning on that dizzy edge I kissed his face and kissed his head And dreamed of all the different ways i had To make him glow Why are you so far away, he said Why won’t you ever know that i’m in love with you That i’m in love with you
You, soft and only You,lost and lonely You, strange as angels Dancing in the deepest oceans Twisting in the water You’re just like a dream You're just like a dream
Daylight licked me into shape I must have been asleep for days And moving lips to breathe his name I opened up my eyes And found myself alone alone Alone above a raging sea That stole the only boy i loved And drowned him deep inside of me
You, soft and only You, lost and lonely You, just like heaven
You, soft and only You, lost and lonely You, just like heaven