quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Workshop de Produção...
Núcleo Terra Cambará promoveu Workshop de produção de Cinema
Após o seu melhor desempenho em Festivais de Vídeo de Guaíba, o Núcleo Terra Cambará do Colégio Estadual Augusto Meyer investe na formação de seus produtores. Carlos Fernandes Rodrigues, produtor de set da Walper Ruas, de Porto Alegre, visitou a escola no dia 22 de novembro último. Primeiro ele contou como escapou do anti-ciclone que atingiu o estado de Santa Catarina, de onde viera direto para o encontro. Mesmo exausto, Carlinhos dividiu experiências que teve trabalhando para grandes nomes do cinema gaúcho como Beto Souza e Tabajara Ruas.
O Núcleo de Vídeo Terra Cambará está promovendo encontros de seus alunos com produtores e atores profissionais visando o desenvolvimento de seus trabalhos. A Cartomante, seu trabalho mais recente, está fase de pós-produção e a estréia está prevista para o Natal.
Entre os filmes em que Carlos trabalhou destacam-se Netto Perde Sua Alma, Cerro do Jarau e Netto e o Domador de Cavalos.
domingo, 9 de novembro de 2008
8 de Novembro de 2008: A Noite Mágica dos Cambarás
O Nível estava muito alto. Ponto para o Festival, o seu crescimento em qualidade de material concorrendo é a garantia de sua longa vida. Mas não perdíamos em nada para os demais e nossas produções foram aplaudidíssimas ao final de cada sessão. O Negro Bonifácio fora o mais aplaudido dos nossos, além da risada do Mefisto no final do Fausto que mexeu com a platéia.
Veio a Cerimônia de Premiação. O Augusto Meyer era de longe a maior torcida no evento. Já de início saímos ganhando dois troféus Educação pelo Sobrado e Fausto. Este último ainda seria indicado para ator coadjuvante (Richard) e roteiro adaptado. E Se Fosse Verdade? teve ainda duas indicações: ator coadjuvante (Paulo Ricardo) e roteiro adaptado.
Mas o grande vencedor fora O Sobrado: além do troféu Educação, ganhou também na categoria roteiro adaptado e foi o terceiro melhor vídeo de ficção. Kelly, que interpretou Bibiana Terra Cambará, foi indicada para melhor atriz.
Agora é hora de comemorar. Depois, é hora de tocar os próximos projetos.
Parabéns a todos os Cambarás!!
sábado, 18 de outubro de 2008
sábado, 11 de outubro de 2008
O melhor desempenho da História...
No último dia 08 de outubro saiu a seleção oficial do Festival de Vídeo de Guaiba. Para nós, guaibenses, é de suma importância ter o reconhecimento do povo da nossa terra. Não que estejamos produzindo pra um festival, mas nunca podemos deixar de prestigiar um evento tão próximos de nós.
Num ano tão turbulento e ao mesmo tempo tão positivo como o de 2008, a chave de ouro só poderia ser o melhor desempenho do Augusto Meyer na história do Festival de Vídeo Estudantil. Não deu outra: em seis momentos a marca dos Terra Cambará será vista no evento.
A grande surpresa foi a aceitação do vídeo "E se Fosse Verdade?", por ser um remake do sucesso hollywoodiano. Mas a forma delicada como o tema da eutanásia é tratado no filme é um diferencial deste trabalho. Destaque também para a excelente atuação de Luan como David, tendo que parecer maluco falando sozinho, de Tamires (eu sempre erro o nome dela) só podendo falar com o Luan e de todo o elenco tendo que fazer de conta que a protagonista não existe.
"O Sobrado" foi o projeto mais audacioso do Núcleo no ano de 2007. Gravado em um dia apenas no sítio histórico de Guaíba, os alunos da atual turma 201, fizeram um excelente trabalho de recuperação de Arte. Além da trilha sonora (que pena que não há prêmio pra isso), o ponto alto é a equipe, que é a base do vídeo "Ana Terra", os diálogos faiscantes, quase como um duelo verbal de farrapos, entre Maria Valéria e Licurgo Cambará exigiram muito de Eduardo Posser e Thaiane Rocha. Ele, aliás, já foi indicado para melhor ator em 2006, esperemos que desta vez o "Jack Bauer" não só repita o feito como traga a estatueta.
E o negro pachola de Simões Lopes Neto chegou quietinho, sem alarde e foi selecionado: "O Negro Bonifácio" é a primeira incursão do núcleo no gênero western. Não queríamos aquele estilo norte-americano e decidimos ir para o lado bang-bang spaguetti com um bom toque de humor e tradicionalismo. As tiradas humorísticas e a fotografia pintada como um gibi do tempo do onça são o ponto alto deste filme.
O grande sobrevivente do ataque terrorista da Coordenadoria ao Núcleo Acadêmico não poderia ficar de fora: "Fausto" de Goethe é o maior clássico da Literatura Gótica, texto de 200 anos, inesgotável! O argumento é fortíssimo e muito difícil de adaptar. Foi o trabalho mais árduo de 2008, mas o empenho de toda a turma 103 fora recompensado, por ora, com a indicação no Festival de Guaíba, com os rasgados elogios nos lugares onde o projeto é apresentado, mesmo sem resultados finais. Nunca pensei que uma turma de primeiro ano do Ensino Médio pudesse digerir e debater esta obra com tamanho interesse. Richard Canabarro está de parabéns, o aluno que sempre foi um terror na escola, com certeza seria um ótimo Mefisto.
Pela primeira vez terei o gostinho de competir como diretor de um vídeo: na mostra alternativa, o documentário "Negro" está competindo na sua sub-categoria.
Ah...tem o projeto professor "Núcleo de Vídeo Terra Cambará", representado pelo documentário "Noite de Vento, tempo dos Cambarás", que conta nossa trajetória desde 2005. Estarei buscando o bicampeonato!
Pra não dizer que não falei das flores: é uma pena não ver Comida de Mono, primeiro projeto em língua estrangeira do núcleo; Trash - Volume 1, vibrante vídeo sobre meio ambiente com um arzinho de Lost (metralhado pela CRE, se não fosse a crise que me arrancaram as nove turmas de arte, seria o grande candidato nosso a melhor vídeo); e Marias, excelente documentário, mas faltou depoimentos reais. Este foi outro muito prejudicado pela minha saída via canetaço.
Ainda tínhamos "Nós somos a América", produzido junto com a 202 e o prof. Cezar Ramirez, na Mostra Alternativa que é muito mais competitiva.
Agora é esperar a noite de sábado, 08 de novembro pra ver o que jurados decidiram. Que seja um dia de Vento....
...porque o Tempo é dos Cambarás!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Cambarás finalistas do 7º Festival de Vídeo de Guaíba, 2008
Ficção
E Se Fosse Verdade?
Fausto
O Negro Bonifácio
O Sobrado
Mostra Projeto Professor
Núcleo Terra Cambará - (documentário Noite de Vento, Tempo dos Cambarás)
MOSTRA ALTERNATIVA
Negro
Percentualmente, dobramos o número de classificados em relação ao ano passado.
Parabéns, Cambarás!!!
domingo, 21 de setembro de 2008
Dá-lhe Cambará!!!!!
Terra Cambará de Guaíba é finalista do Arte na Escola!
Projeto de Escola de Guaíba é o Rio Grande na final de concurso nacional
O projeto do Núcleo de Vídeo Terra Cambará do Colégio Estadual Augusto Meyer foi classificado para a última fase do Concurso Arte na Escola Cidadã. Mesmo restrito a menos turmas no currículo, mas a todo vapor na Escola Aberta , o trabalho coordenado pelo professor Roberto Silva está entre os melhores projetos de ensino de Arte do Brasil.
Foram 1110 projetos inscritos, destes, 435 passaram para a segunda fase. Nesta última, os professores coordenadores dos pólos, pertencentes às grandes universidades do país, selecionaram 103 finalistas. O projeto passou por todas estas etapas e agora espera o resultado final, dia 30 de setembro,
Atualmente, o Núcleo está focado na sua produção dentro da Escola Aberta. Após inscrever 10 projetos no Festival de Vídeo Estudantil de Guaíba, a equipe do professor Roberto está gravando as cenas do curta “A Cartomante”, adaptação do conto homônimo de Machado de Assis.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Blog da Cartomante...
http://acartomantecambara.blogspot.com/
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
domingo, 20 de julho de 2008
Projeto turma 105 - TRASH roteiro para o aterro
TRASH
VOLUME 1
CENA 0 – EXT – ATERRO
Mônica acorda, levanta, estranhando tudo, nota que está suja.
Mônica
(grita)
Puta que Pariu!!!!
O grito de Mônica ecoa por todo o aterro, fazendo acordar outros seis que estavam caídos a sua volta.
Todos se perguntam quem são. Não sabem responder nem quem são.
Se espalham desordenadamente à procura de saída.
Andam em círculos e voltam a se encontrar no mesmo ponto.
Marcelo acalma todos e os convence a se unir para achar juntos uma saída.
Lisete encontra seu objeto.
Valéria encontra seu objeto.
Morgana encontra seu objeto.
Isaac encontra seu objeto
Mc Jorge encontra seu objeto.
Mônica encontra seu objeto.
Marcelo encontra seu objeto.
Aparece O CATADOR falando como um profeta de um “fim do mundo”.
Ninguém acredita nele. Acham que é um mendigo.
Encontram um jornal falando da crise do lixo.
Marcelo se lembra de uma reunião de cúpula.
Marcelo passa a acreditar no catador e convence os outros de que as palavras do estranho são verdadeiras.
O Catador some.
Todos acreditam que o Catador sabe uma saída daquele lugar.
Procuram o catador.
O vêm, ao longe correndo.
Correm atrás dele.
Vêm uma usina.
sábado, 19 de julho de 2008
Projeto CEM anos SEM Machado...
Participe!
domingo, 15 de junho de 2008
Roteiro da Turma 102
Homem entra acompanhado de uma mulher na sala de um apartamento. O imóvel está vazio.
CORRETORA
É, David, bem clássico. Me informaram que tem há um problema com a proprietária que impossibilita um contrato longo.
DAVID
(senta no sofá)
Não quero saber de burocracias! Quero ficar com ele.
CORRETORA
Mas...
DAVID
Já decidi.
CENA 02 – CASA DE DAVID
David está em frente à televisão com os pés na mesa de centro, com cara de insone. Ao seu redor várias latas de cerveja vazias. Ele se levanta, chutando latas. Vai até a geladeira, pega uma lata de cerveja e fecha a porta da mesma.
MULHER
O que você está fazendo aqui?
David se assusta e abre a lata que estoura no rosto da mulher.
DAVID
(assustado)
Quem é você?
MULHER
(brava)
Eu perguntei primeiro.
David gagueja.
MULHER
(brava)
Perdeu a língua é? O que você está fazendo na minha casa? O que é essa bagunça?
David gagueja.
MULHER
(assustada)
Meu Deus! É um assalto? Olha, eu não tenho nada de valor e...
DAVID
(grita)
Não!
MULHER
(dá um grito)
Pegue o que quiser e..
DAVID
Espere aí, eu aluguei esse apartamento! Ah...entendi. Eu não acredito que eu caí!
MULHER
No quê?
DAVID
No golpe do aluguel.
MULHER
Olha, vou ligar para a polícia e resolvemos isso de uma vez. (se vira e vai para outra peça)
DAVID
(indignado)
É isso mesmo! Vamos resolver agora e...
David chega na outra peça e perde a mulher de vista.
DAVID
Ué, cadê você?
CENA 3 – BANHEIRO
David está enrolado numa toalha. O espelho está embassado. Ele limpa o espelho com a mão e vê o reflexo da mulher novamente.
MULHER
(furiosa)
Sai da minha casa!
David grita. Olha para trás. Limpa de novo o espelho e não vê ninguém.
CENA 4 – BAR
David está sentado a mesa com um amigo.
DAVID
Eu não sei como te dizer isso, Jackson mas..
JACKSON
Que tal do início?
DAVID
Há uma mulher.
JACKSON
(feliz)
Até que enfim! Que ótima notícia!
DAVID
Não. Não é isso. Há uma mulher morando na minha casa!
JACKSON
Já está nesse nível! Maravilha! Está começando a viver novamente!
DAVID
Não (fala alto)! Há uma mulher que aparece e some de repente na minha casa.
Jackson estranha.
JACKSON
Olha, David, acho melhor termos essa conversa no meu consultório. Somos amigos há anos, eu te faço um desconto.
DAVID
Eu juro, ela é bem real!
JACKSON
E como ela é?
DAVID
Baixa, morena, cabelo cacheado, marrenta e com mania de organização.
JACKSON
E quando você a viu, tinha bebido alguma coisa?
DAVID
Sim.
JACKSON
Se não quiser conversar sobre isso no meu consultório, te indico um colega.
DAVID
(indignado)
Ah...pára com isso.
JACKSON
Está bem. Digamos que essa mulher misteriosa exista mesmo. O que fazemos quando algo assombra a nossa casa? Chamamos um pai de santo.
CENA 5 – CASA DO DAVID
Um pai de santo joga milho pela casa inteira. Fala em uma língua desconhecida e fuma um charuto. David acompanha o pai de santo. A mulher aparece furiosa.
MULHER
Eu espero que você limpe isso assim que o preto veio sair!
CENA 6 – CASA DE DAVID
Agora um pastor evangélico anda de um lado para outro. David está parado e o acompanha com os olhos. A mulher está ao lado de David com os ouvidos tampados.
PASTOR
(gritando)
Por que Jesus é mais forte que tu, demônio! Saia desta casa cristão e volta pros quintos dos inferno que é o teu lugar!
MULHER
(para David)
Fala pra ele que eu não sou surda!
DAVID
Pastor!
PASTOR
Por que o templo foi profanado e partido...diga meu filho.
DAVID
Pode falar mais baixo. Ela está aqui do meu lado.
O pastor se assusta.
PASTOR
O demônio está no teu corpo, irmão! Terei de tirá-lo a força!
DAVID
(assustado)
Oh, não!
PASTOR
(berrando)
Sai deste corpo que não te pertence! (começa a bater em David com a bíblia)
David se defende como pode. Começa a empurrar o pastor para a porta da rua. Com muita dificuldade, ele consegue expulsar o sacerdote. David tranca a porta.
MULHER
Dá pra me explicar o que significa este circo todo?
DAVID
(dá um grito)
Fica longe de mim!
MULHER
Olha, cara! Eu só quero que vá embora, tá bom?
DAVID
Meu Deus! Será que você não percebeu ainda?
MULHER
O quê?
DAVID
Que você está morta!
MULHER
(se assusta)
Como ousa?
DAVID
Aliás, já faz um tempo que quero fazer isso. (estende a mão) Eu sou David e você é...
A mulher mostra dificuldade para lembrar o nome. Ela vê uma caneca no armário com o nome Elisabeth escrito.
MULHER
Elisabeth, meu nome é Elisabeth.
DAVID
Você colou!
ELISABETH
Não colei não!
DAVID
Colou sim!
ELISABETH
Olha, chega! Eu vou ligar pra polícia e vamos acabar com isso.
Elisabeth tenta pegar o telefone sem fio, mas não consegue. Ela dá um grito.
DAVID
Vá para a luz, Elisabeth!
ELISABETH
Cala a boca!
Elisabeth sai e desaparece.
CENA 07 – LIVRARIA
David está folhando livros. Um homem aparece e toca em seu ombro.
HOMEM
Procurando algo especial?
DAVID
Trabalha aqui?
HOMEM
Dario. (apertam-se as mãos) Trabalho aqui e conheço todos os livros desta livraria.
DAVID
Ah é? Então me indica um livro que me ensine a expulsar um espírito da minha casa.
DARIO
Nossa! O caso é sério. (começa a tirar livros da prateleira) Tome esse, mais esse e mais esse.
Mas creio que posso ajudá-lo de uma outra forma.
CENA 08 – CASA DE DAVID
Dario está sentado no sofá. David está em pé.
DARIO
Hum, não sinto nada.
DAVID
Ela não está aqui.
DARIO
Então chama ela.
David
Chamar ela?
DARIO
Sim.
DAVID
Elisabeth! Elisabeth!
DARIO
Assim acho melhor pegar um travesseiro.
DAVID
Espera aí! Eu tive uma idéia.
David vai até a geladeira e pega uma cerveja.
DAVID
Eu estou abrindo uma geladíssima lata de cerveja e estou colocando direto na mesa de centro de madeira nobre!
Elisabeth aparece.
ELISABETH
Tu não conheces descansa-copos!
DARIO
Espere estou sentindo algo.
DAVID
Ela acabou de chegar.
DARIO
É, com certeza é uma presença espiritual. Mas que estranho!
DAVID
O quê?
DARIO
É o espírito mais vivo que eu já tive contato!
DAVID
E quantos tu já conheceu?
DARIO
Dois. Contando com esse.
ELISABETH
Quanta experiência!
DARIO
Mas estou certo de uma coisa: ela não está morta.
ELISABETH
Gostei dele.
DAVID
Como é que é?
DARIO
Quanto a você.(vira para David) Cruzes! Cuidado, isso está te matando.
ELISABETH
(debochada)
Hum...temos um segredo em casa! Que foi? Ela te chutou? Pobrezinho.
DAVID
(quase chorando)
Não fala do que tu não sabe!
David sai.
DARIO
Moça, só peço uma coisa: respeite os mortos.
Dario sai.
CENA 09 – QUARTO
Elisabeth entra no quarto. David está sentado olhando pela janela.
ELISABETH
Olha, me desculpe. Eu não tinha direito de ferir teus sentimentos.
David não responde.
ELISABETH
(preocupada)
Como ela era? Faz muito tempo que ela se foi?
DAVID
Um ano.Parece que foi ontem. Parece que ela esteve aqui há pouco e já vai voltar. Mas ela nunca mais vai voltar! Eu...eu não vou mais vê-la! Ainda é difícil, sabe? Difícil aceitar a vida sem ela.
ELISABETH
Olha, David, eu não sei mais nem o que é vida.
Que tal pararmos de brigar e ajudar-nos uns aos outros.
DAVID
Tudo bem.
ELISABETH
Vamos descobrir quem eu sou.
CENA 10 – CORREDOR
David e Elisabeth batem em várias portas. Todos respondem a mesma coisa.
VIZINHOS
Não sei quem era.
ELISABETH
Nossa! Será que eu era uma criminosa?
DAVID
(bate na porta)
Ou amante de algum político.
ELISABETH
Eu não era uma vagabunda!
A porta se abre. Ouve-se um som estridente de um funk vulgar. Uma mulher vestida de funqueira aparece.
VIZINHA
(entusiasmada)
Oi.
DAVID
Olá. Sou seu vizinho do andar de cima e gostaria de algumas informações sobre a moça que morava no apartamento antes de mim.
VIZINHA
Desculpa, mas a vi muito pouco. Ela me parecia estranha, não falava com ninguém. Parecia que fazia questão disso.
(se insinua para David)
Olha, a minha janela emperrou. Pode me ajudar?
DAVID
(entendendo o clima)
Ah...desculpa! Mas eu não entendo nada de consertos. Tenho que ir.
VIZINHA
(mais insinuante)
Tudo bem! Mas qualquer hora aparece aí para tomar uma caipirinha!
David e Elisabeth se viram. A vizinha fecha a porta lentamente.
ELISABETH
(debochada)
Sai que é sua!
DAVID
Cala a boca!
CENA 12 – RUA
David e Elisabeth estão andando.
DAVID
Mas como você não se lembra de nada!
ELISABETH
Eu não consigo...eu tento e...nada!
Um homem cai na calçada. Ouve-se um grito de socorro e um pedido de um médico. Elisabeth pára de andar e olha fixamente para o homem caído no chão.
ELISABETH
David!
DAVID
O quê?
ELISABETH
Temos que ajudá-lo.
DAVID
Como?
ELISABETH
Faça exatamente o que eu mandar.
DAVID
(nervoso)
Como é que é?
ELISABETH
(gritando)
Vai!
David se abaixa e protege o homem com o corpo.
DAVID
(falando bem alto)
Tudo bem! Eu sou médico! Afastem-se!
(falando baixo e medroso)
O que eu faço agora?
ELISABETH
Veja se ele está respirando.
DAVID
Parece que ele não está conseguindo.
ANÔNIMO
Falou comigo, cara?
DAVID
Não!
ELISABETH
Pelo jeito ele precisa de uma traqueotomia.
DAVID
Traque o quê?
ANÔNIMA
Mas que espécie de médico é você?
ELISABETH
Traqueotomia!
DAVID
(nervoso)
Preciso fazer uma totomia!
ELISABETH
Traqueotomia!
DAVID
Xicotomia!
ELISABETH
Olha, pede uma tampa de caneta.
DAVID
(nervoso)
Uma tampa de caneta, por favor!
Um estudante alcança uma tampa de caneta a David que a pega.
ELISABETH
Agora faça um furo naquela cavidade entre o pescoço e o peito.
DAVID
Faço um furo na cav...espera aí, eu vou matar o cara!
ELISABETH
David, confie em mim. Se fizer isso ele vai morrer!
DAVID
(grita)
Uísque! Alguém pode me conseguir um uísque
As pessoas ficam se olhando estranhando o pedido. Um mendigo fura a multidão.
MENDIGO
Moço, isso serve! (estende uma garrafa de cachaça)
David bebe todo o líquido da garrafa. Escarra, pega a tampa da caneta e faz o furo no homem caído. O paciente começa a respira na hora. Todos aplaudem. David se levanta feliz.
ELISABETH
Eu sou médica!
DAVID
Você é médica! Digo, eu sou médico!
Espera aí! Alguém sabe onde é o hospital mais próximo?
MENDIGO
O Livramento na rua de cima!
David e Elisabeth saem correndo.
CENA 13 – HOSPITAL
David e Elisabeth chegam na recepção.
DAVID
(para a recepcionista)
Por favor, eu gostaria de uma informação. É sobre uma médica que trabalhou aqui: Dra. Elisabeth.
RECEPCIONISTA
Dra. Elisabeth? Mastersson?
DAVID E ELISABETH
Sim!
RECEPCIONISTA
Ela não trabalha mais conosco. É familiar?
ELISABETH
Diga que é meu namorado, se não vão te dispensar.
DAVID
Nós éramos namorados. Estive viajando e estou sem notícias dela.
RECEPCIONISTA
Um momento por favor.
A recepcionista se distancia e pega o telefone.
ELISABETH
Ela falou naquele tom.
DAVID
Que tom?
ELISABETH
Que a gente fala para as famílias quando não há mais o que fazer para salvar o paciente.
DAVID
Essa não!
(olha para Elisabeth)
Eu, não sei como te dizer...
ELISABETH
O quê?
DAVID
Eu não gostaria de te perder.
FRAN
É o senhor que quer saber de Elisabeth Mastersson!
ELISABETH
(grita)
Fran!
DAVID
Fran!
Digo, Dra. Fran!
FRAN
Dra. Francine Couto, prazer. Mas parece que já me conhece! Não sei de onde!
DAVID
Desculpe, é que Elisabeth me falou muito da senhora.
FRAN
Venha comigo.
CENA 14 – CORREDOR DO HOSPITAL
Fran, David e Elisabeth estão andando pelo corredor.
ELISABETH
Agora eu lembro! A Fran é minha melhor amiga! Eu contava tudo pra ela. A minha vida era este hospital.
DAVID
Elisabeth dizia que sua vida era o hospital. E que era a sua melhor amiga.
FRAN
É verdade. Mas o estranho é que ela nunca me falou de você.
DAVID
Nosso relacionamento era muito recente. (olha para Elisabeth)
Fran pára em frente a um quarto e abre a porta.
FRAN
Então, sinta-se à vontade, senhor David.
Elisabeth e David entram no quarto. Lá dentro, os dois se assustam com o que vêm: Elisabeth deitada na cama, em coma. Fran entra no quarto.
ELISABETH
Agora eu lembro: o acidente! Eu estava saindo daqui quando um caminhão me cortou a frente. Ai...que dor de cabeça!
DAVID
Desde quando ela está assim?
FRAN
Um ano. A família já autorizou a retirada dos órgãos.
DAVID E ELISABETH
Como?
FRAN
Um ano sem evolução do quadro e a atividade cerebral é nula. Está mais que configurada a morte cerebral. Sinto muito.
DAVID
(olhando, com os olhos rasos d’água, para o espírito de Elisabeth)
Não pode. Não pode tirar ela de mim.
FRAN
O senhor ficou muito tempo longe, senhor David, a irmã dela assinou os papéis. Eu vou deixar o senhor se despedir dela.
Fran sai.
ELISABETH
Ai meu Deus! E agora!
DAVID
Eu não sei.
CENA 15 – Casa de Abigail
Toca o telefone. Uma mulher atende.
MULHER
Sim.
FRAN
Senhora Abigail Mastersson, aqui é a Dra. Fran. Estou ligando para falar sobre Elisabeth, é que apareceu um rapaz dizendo ser namorado dela e está contestando a sua autorização.
ABIGAIL
Como é que é? Elisabeth não tinha namorado nenhum, se tivesse eu saberia.
CENA 16 – QUARTO DO HOSPITAL
Elisabeth entra e sai de seu corpo.
ELISABETH
Não está dando certo. Não consigo ficar!
Fran entra no quarto com dois seguranças.
FRAN
Senhor David, eu gostaria de pedir que se retirasse!
DAVID
Mas o que é isso!
FRAN
Acabei de ligar para a irmã de Elisabeth, que era a sua única família, e ela nunca soube de nenhum namorado chamado David.
DAVID
Espere eu posso explicar.
Fran faz sinal para os seguranças, que avançam. David se abraça ao corpo de Elisabeth e o levanta isso faz com que a mangueira de oxigênio se rompa. Fran se assusta, os seguranças paralisam. O espírito de Elisabeth começa a desaparecer.
ELISABETH
David, está acontecendo. Está frio. David!
DAVID
(olha para o espírito de Elisabeth, que some)
Não me deixe. Eu não quero ficar sozinho de novo!
(olha para o corpo de Elisabeth e beija seus lábios)
David vai largando Elisabeth lentamente, ela abre os olhos devagar. Elisabeth olha para David e não o reconhece, demonstra medo dele. David nota que a moça não sabe quem ele é e se afasta lentamente com uma expressão triste no rosto. Cabisbaixo, ele deixa o quarto.
CENA 17 – CASA DE DAVID/ELISABETH
Elisabeth chega ao apartamento com uma mala em cada mão. Larga a bagagem no sofá e vai até a cozinha. Pega um copo d’água, bebe. Ao se virar se assusta com David parado na porta.
ELISABETH
(assustada)
Que você quer?
DAVID
Devolver a chave. Tome. (estende a mão fechada)
Elisabeth estende a mão para receber. Sente um arrepio quando as mãos se tocam. David tira a mão de repente. Ela vê em sua mão um molho de chaves e uma tampa de caneta. As lembranças das aventuras de seu espírito ao lado de David vêm à tona. David se vira e começa a sair.
ELISABETH
David!David se vira. Ela corre para seus braços. Beijam-se.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
roteiro do Negro Bonifácio
Roteiro
O Negro Bonifácio
CENA 01 – Ext/dia – pátio da Carreira
Dois cavalos passam enfileirados. Um sai da formação. Os cavaleiros se olham, se estranham. Povo na volta da cancha. Uma mulher olha para um cavaleiro, depois para outro.
BLAU
Espera aí, vivente! Antes que o índio velho vá desligar a água do mate, me escute: sou Blau Nunes, vaqueano por opção e gaúcho graças a Deus. E vou lhe contar essa história que ocorreu lá pras bandas do Rincão do Terêncio.
CENA 02 – TUDINHA
Moça passa na rua sob o olhar atento de homens que passam no sentido contrário e de outros que estão sentados a uma mesa bebendo.
BLAU
(OFF)
Tudo começa por causa da Tudinha. A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles pagos. Alta e delgada parecia assim um jerivá ainda novinho, quando balança a copa verde tocada de leve por um vento pouco, da tarde. Tinha os pés pequenos e as mãos mui bem torneadas; cabelo cacheado, as sobrancelhas finas, nariz alinhado. Mas o rebenqueador, o rebenqueador..., eram os olhos!...Os olhos da Tudinha eram assim a modo olhos de veado-virá, assustado: pretos, grandes, com luz dentro, tímidos e ao mesmo tempo haraganos... pareciam olhos que estavam sempre ouvindo.., ouvindo mais, que vendo...Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo; e os lábios da morocha deviam ser macios como treval, doces como mirim, frescos como polpa de guabiju...
CENA 03 – CASA DA TUDINHA
Tudinha está em casa com a mãe, no rancho.
BLAU
(OFF)
Corria à boca pequena que ela era filha do capitão Pereirinha, estancieiro, que só ali, nos Guarás, tinha mais de não sei quantas léguas de campo de lei, povoado, O certo é que o posto em que ela morava com a mãe, a sia Fermina, era um mimo; tinha de um tudo: lavoura, boa cacimba, um rodeíto manso; e a Tudinha tinha cavalo amilhado, só do andar dela, e alguma prata nos preparos.
Um velho chega no rancho.
BLAU
(OFF)
O velho, às vezes, ia por lá, sestear, tomar um chimarrão...
CENA 04 – Pátio da Carreira
Os cavalos estão enfileirados.
BLAU
Pois para a carreira essa, tinha acudido um povaréu imenso.E ela veio, também, com a velha. Velha, é um dizer, porque a sia Fermina ainda fazia um fachadão...Acharam que a cousa era trova de bêbado. E sem ninguém esperar, também apareceu o negro Bonifácio.
CENA 05 – O NEGRO
O Negro Bonifácio anda pela rua de braço com uma mulher.
BLAU
(OFF)
Se o negro era maleva? Cruz! Era um condenado!... mas, taura, isso era, também! Era o índio mais ladino daquelas bandas: mulherengo, contrabandista, pistoleiro. Mas o que mais provocava o estranhamento do povo daquelas bandas era que Bonifácio tinha ferros nos dentes. Diziam que o negro podia comer qualquer cousa graças aos arames que tinha na boca. Outros diziam que aquilo foi uma maldição. Outros que era castigo do tempo das charqueadas.
CENA 06 – INTERNA – BAR
O negro, acompanhado de uma outra mulher, entra num bar, quatro homens estão no balcão bebendo. Todos param o que estão fazendo e ficam cuidando o negro e sua mulher. Bonifácio pára em frente ao balcão. Tudinha entra, repara no negro e olha com raiva para ele.
Bonifácio se desvencilha da mulher e vai em direção de Tudinha. Fica frente a frente com a moça. Passa a mão pela cabeça dela. Todos no bar se assustam.
BLAU
(OFF)
Mas o Negro era um debochado! Passar a mão numa moça donzela anssim, na frente de todo mundo! A la puxa!
Bonifácio sorri. Tudinha se irrita e lhe dá um tapa no rosto.
BONIFÁCIO
Isso é o que eu estou pensando?
TUDINHA
(irritada)
Isso mesmo! É um duelo, e de adaga!
BONIFÁCIO
(Ri)
Como posso aceitar um duelo com uma chinoca!
Um homem grita no bar
HOMEM
Pos tomo como meu o desafio!
Bonifácio vai em direção ao homem. Olha para ele com tom ameaçador.
BONIFÁCIO
Nadico! Entonces queres um peleia comigo? Esquecestes porque teu pai, o Antunes gordo, é rengo?
Nadico começa a tremer.
TUDINHA
(grita)
Já que é difícil uma peleia, mudo minha proposta: uma carreira!
CENA 07 – CARREIRA
Os cavalos estão emparelhados. Tudinha fica a frente dos dois. Olha fixa para Nadico e depois para Bonifácio. Tudinha tira um lenço do colo e o deixa cair ao chão. Quando este toca o solo, os cavalarianos disparam. Eles seguem parelhos, Nadico, com olhar amedrontado, olha para Bonifácio, que sorri. O brilho do aparelho dentário de Bonifácio assusta Nadico que dá um esporaço profundo em seu cavalo que relincha. O Tordilho de Nadico dispara e vence a carreira.
Bonifácio chega, sorridente, já desacelerando o pingo. Nadico olha assutado para ele.
NADICO
Por que estás rindo, negro? Perdeste!
BONIFÁCIO
(debochado, olha para Tudinha)
De noite, trago as onças que apostei.
CENA 08 – INT/ BAR
Nadico, Tudinha e Siá Firmina bebem felizes no balcão. Entra Bonifácio.
BLAU
(OFF)
No barulho das saúdes e das caçoadas, quando todos se divertiam, foi que apareceu aquele negro excomungado, para aguar o pagode. Trazia na mão um lenço de sequilhos, que estendeu a Tudinha: havia perdido, pagava...
A morocha parou em meio um riso que estava rindo e firmou nele uns olhos atravessados, esquisitos, olhos como pra gente que já os conhecesse.., e como sentiu que o caso estava malparado, para evitar o desaguisado.
TUDINHA
(sem olhar para Bonifácio)
Entrega os três quartos de onças pra minha mãe.
BONIFÁCIO
(furioso)
Eu sou teu negro, de cambão!... mas não piá da china velha! Toma! (tira o saco de moedas da guaiaca e o atira na mesa).
Nadico pega o saco de moedas e atira na cara de Bonifácio. O Negro saca o facão e Nadico também. Bonifácio olha para os lados e vê mais quatro na sua volta.
BLAU
(OFF)
Vinte ferros faiscaram; era o Nadico, eram os outros namorados da Tudinha e eram outros que tinham contas a ajustar com aquele tição atrevido.
Bonifácio defende uma investida de facão. Nadico acaba lhe acertando um golpe no pescoço. O Negro cai e um bolo de homens se atira em cima dele. Numa explosão, Bonifácio joga seus oponentes longe. Um gaúcho tira uma boleadeira da guaiaca, gira e atira em direção ao Negro. Bonifácio desvia e o objeto acerta o bolicheiro. Cambaleante, Bonifácio se dirige a Nadico, que lhe ataca de facão novamente. Bonifácio defende, sorri, o brilho do aparelho do negro assusta Nadico, que paralisa. Bonifácio lhe dá um golpe cruzado de facão que o faz cambalear. Tudinha corre para acudir Nadico, que dá o último suspiro em seus braços. O negro se dirige a Tudinha. Uma mão pega uma chaleira. Um golpe de água atinge Bonifácio que cai urrando de dor. Siá Firmina está em pé com a chaleira vazia na mão. Bonifácio se levanta furioso, crava o facão na velha, a levanta, a gira e a joga no chão ao lado de Tudinha.
Tudinha começa mudar o seu semblante para o de uma pessoa enlouquecida.
BLAU
(off)
A Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro, retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim, espumando e rindo-se, desatinada um pouco bonita, sempre! um pouco ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco um pouco vancê compreende?... um pouco e uma, duas, dez, vinte, cinqüenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca... como quem quer estraçalhar uma causa nojenta... como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!...
Os Gaúchos na volta ficam paralisados de horror diante da cena.
CENA 09 – EXT/ FIGUEIRA.
Tudinha e Bonifácio estão abraçados ao pé de uma figueira.
BLAU
(OFF)
Mais tarde vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a arreganhar a Tudinha;
Bonifácio está com outra mulher. Tudinha se atrevessa na frente deles. Ele a desdenha e segue adiante.
BLAU
(OFF)
Que ao depois tomara novos amores com outra fulana, uma piguancha de cara chata, beiçuda; e que naquele dia, para se mostrar, trouxera na garupa a novata, às carreiras, só de pirraça, para encanzinar, para tourear a Tudinha, que bem viu, e que apesar dos arrastados de asa daquela moçada e sobretudo do Nadico, que já a convidara para se acolherar com ele, sentira-se picada, agoniada da desfeita que só ela e o negro entendiam bem...; por isso é que ela ficou como cobra que perdeu o veneno...
Blau termina um chimarrão, olha para a tela.
BLAU
Até hoje me intriga, isto: como uma morena, tão linda, entregou-se a um negro, tão feio?...Seria de medo, por ele ser mau?... Seria por bobice de inocente?... Por ele ser forçudo e ela, franzina?...
Ah! mulheres!...Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa... tudo é bicho caborteiro...; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!.
Blau sai.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
imagens das gravações de "O Hóspede" em Aramba
18 horas de gravação em Santa Rita do Sul, arredores de Arambaré. Se Deus quiser esta produção vai longe!
segunda-feira, 3 de março de 2008
Projeto para a Turma 101
(Simões Lopes Neto)
Se o negro era maleva? Cruz! Era um condenado!... mas, taura, isso era, também!
Quando houve a carreira grande, do picaço do major Terêncio e o tordilho do Nadico (filho do Antunes gordo, um que era rengo), quando houve a carreira, digo, foi que o negro mostrou mesmo pra o que prestava...; mas foi caipora.
Escuite.
A Tudinha era a chinoca mais candongueira que havia por aqueles pagos. Um cajetilha da cidade duma vez que a viu botou-lhe uns versos mui lindos — pro caso — que tinha um que dizia que ela era uma
"............................................... chinoca airosa,
Lindaça como o sol, fresca como uma rosa!...
E o sujeito quis retouçar, porém ela negou-lhe o estribo, porque já trazia mais de quatro pelo beiço, que eram dali, da querência, e aquele tal dos versos era teatino...
Alta e delgada, parecia assim um jerivá ainda novinho, quando balança a copa verde tocada de leve por um vento pouco, da tarde. Tinha os pés pequenos e as mãos mui bem torneadas; cabelo cacheado, as sobrancelhas finas, nariz alinhado.
Mas o rebenqueador, o rebenqueador..., eram os olhos!...
Os olhos da Tudinha eram assim a modo olhos de veado-virá, assustado: pretos, grandes, com luz dentro, tímidos e ao mesmo tempo haraganos... pareciam olhos que estavam sempre ouvindo.., ouvindo mais, que vendo...
Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo; e os lábios da morocha deviam ser macios como treval, doces como mirim, frescos como polpa de guabiju...
E apesar de arisca, era foliona e embuçalava um cristão, pelo só falar, tão cativo...
No mais, buenaça, sem entono; e tinha de que, porque corria à boca pequena que ela era filha do capitão Pereirinha, estancieiro, que só ali, nos Guarás, tinha mais de não sei quantas léguas de campo de lei, povoado, O certo é que o posto em que ela morava com a mãe, a sia Fermina, era um mimo; tinha de um tudo: lavoura, boa cacimba, um rodeíto manso; e a Tudinha tinha cavalo amilhado, só do andar dela, e alguma prata nos preparos.
Parecenças, isso, tinha, e não pouco, com a gente do capitão...
O velho, às vezes, ia por lá, sestear, tomar um chimarrão...
Pois para a carreira essa, tinha acudido um povaréu imenso.
E ela veio, também, com a velha. Velha, é um dizer, porque a sia Fermina ainda fazia um fachadão...
E deu o caso que os quatro embeiçados também vieram, e um, o mais de todos, era o Nadico.
E sem ninguém esperar, também apareceu o negro Bonifácio.
É assim que o diabo as arma...
Escuite.
O negro não vinha por ela, não; antes mais por farrear, jogar e beber: ele era um perdidaço pela cachaça e pelo truco e pela taba.
E bem montado, vinha, num bagual lobuno rabicano, de machinhos altos, peito de pomba e orelhas finas, de tesoura; mui bem tosado a meio cogotilho, e de cola atada, em três tranças, bem alto, onde canta o galo!...
E na garupa, mui refestelada, trazia uma chirua, com ar de querendona...
Eta! negro pachola!
De chapéu de aba larga, botado no cocuruto da cabeça e preso num barbicacho de borlas morrudas, passado pelo nariz; no pescoço um lenço colorado, com o nó republicano; na cintura um tirador de couro de lontra debruado de tafetá azul e mais cheio de cortados do que manchas tem um boi salino!
E na cintura, atravessado com entono, um facão de três palmos, de conta.
Na pabulagem, andava sozinho: quando falava, era alto e grosso e sem olhar para ninguém.
Era um governo, o negro!
Ora bem; depois de se mostrar um pouco, o negro apeou a chirua e já meio entropigaitado começou a pastorejar a Tudinha... e tirando-se dos seus cuidados encostou o cavalo rente no dela e aí no mais, sem um ¾ Deus te salve! ¾ sacudiu-lhe um envite para uma paradita na carreira grande. A piguancha relanceou os seus olhos de veado assustado e não se deu por achada; ele repetiu o convite da aposta e ela então ¾ depois explicou ¾ de puro medo aceitou, devendo ganhar uma libra de doces, se ganhasse o tordilho. O tordilho era o do Nadico.
Ficou fechado o trato.
O negro ¾ era ginetaço! ¾ deu de rédea no lobuno, que virou direito, nos dois pés, e já lhe cravou as chilenas, grandes como um pires, e saiu escaramuçando, meio ladeado!
Os quatro brancos se olharam… o Nadico estava esverdeado, como defunto passado...
A Tudinha pegou logo a caturritar, e a cousa foi passando, como esquecida.
Mas, quê!... o negro estava jurado...
Escuite.
Entraram na cancha os parelheiros, todos dois pisando na ponta do casco, mui bem compostos e lindos, de se lavar com um bochecho d’água.
Fizeram as partidas; largaram; correram: ganhou, de fiador, o do Nadico, o tordilho.
Depois rompeu um vozerio, a gente desparramou-se, parecia um formigueiro desmanchado; as parcerias se juntaram, uns pagavam, outros questionavam.... mas tudo se foi arreglando em ordem, porque ninguém foi capaz de apontar mau jogo.
E foi-se tomar um vinho que os donos da carreira ofereceram, como gaúchos de alma grande, principalmente o major Terêncio, que era o perdedor.
E a Tudinha lá foi, de charola.
No barulho das saúdes e das caçoadas, quando todos se divertiam, foi que apareceu aquele negro excomungado, para aguar o pagode. Esbarrou o cavalo na frente do boliche; trazia na mão um lenço de sequilhos, que estendeu a Tudinha: havia perdido, pagava...
A morocha parou em meio um riso que estava rindo e firmou nele uns olhos atravessados, esquisitos, olhos como pra gente que já os conhecesse.., e como sentiu que o caso estava malparado, para evitar o desaguisado, disse:
¾ Faz favor de entregar à mamãe, sim?!...
O negro arreganhou os beiços, mostrando as canjicas, num pouco caso e repostou:
¾Ora, misturada!..., eu sou teu negro, de cambão!... mas não piá da china velha! Toma!
E estendeu-lhe o braço, oferecendo o atado dos doces.
Aqui, o Nadico manoteou e no soflagrante sopesou a trouxinha e sampou com ela na cara do muçum.
Amigo! Virge’ nossa senhora!
Num pensamento o negro boleou a perna, descascou o facão e se veio!...
O lobuno refugou, bufando.
Que peleia mais linda!
Vinte ferros faiscaram; era o Nadico, eram os outros namorados da Tudinha e eram outros que tinham contas a ajustar com aquele tição atrevido.
Perto do negro Bonifácio, sentado sobre um barril, sem ter nada que ver no angu, estava um paisano tocando viola: o negro ¾ pra fazer boca, o malvado! ¾ largou-lhe um revés, tão bem puxado, que atorou os dedos do coitado e o encordoamento e afundou o tampo do estrumento!...
Fechou o salseiro.
O Nadico mandou a adaga e atravessou a pelanca do pescoço do negro, roçando na veia artéria; o major tocou-lhe fogo, de pistola, indo a bala, de refilão, lanhar-lhe uma perna.., o ventana quadrava o corpo, e rebatia os talhos e pontaços que lhe meneavam sem pena.
E calado, estava; só se via no carão preto o branco dos olhos, fuzilando...
Ai!...
Foi um grito doido da Tudinha... e já se viu o Nadico testavilhar e cair, aberto na barriga, com a buchada de fora, golfando sangue!...
No meio do silêncio que se fez, o negro ainda gritou:
¾ Come agora os meus sobejos!…
Depois, roncou, tal e qual como um porco acuado... e então, foi uma cousa bárbara!...
Em quatro paletadas, desmunhecando uns, cortando outros, esgaravatando outros, enquanto o diabo esfrega o olho, o chão ficou estivado de gente estropiada, espirrando a sangueira naquele reduto.
é verdade também que ele estava todo esfuracado: a cara, os braços, a camisa, o tirador, as pernas, tinham mais lanhos que a picanha de um reiúno empacador: mas não quebrava o corincho, o trabuzana!
Aquilo seria por obra dalguma oração forte, que ele tinha, cosida no corpo.
A esse tempo, era tudo um alarido pelo acampamento; de todos os lados chovia gente no lugar da briga.
A Tudinha, agarrada ao Nadico, com a cabeça pousando-lhe no colo, beijando-lhe ela os olhos embaciados e a boca já morrente, ali, naquela hora braba, à vista de todo o mundo e dos outros seus namorados, que se esvaíam, sem um consolo nem das suas mãos nem das puas lágrimas, a Tudinha mostrava mesmo que o seu camote preferido era aquele, que primeiro desfeiteou e cortou o negro, por causa dela...
Foi então que um gaúcho gadelhudo, mui alto, canhoto, desprendeu da cintura as boleadeiras e fê-las roncar por cima da cabeça… e quando ia a soltá-las, zunindo, com força pra rebentar as costelas dum boi manso, e que o negro estava cocando o tiro, de facão pronto pra cortar as sogas... nesse mesmo momento e instante a velha Fermina entrou na roda, e ligeira como um gato, varejou no Bonifácio uma chocolateira de água fervendo, que trazia na mão, do chimarrão que estava chupando...
O negro urrou como um touro na capa...; a rumo no mais avançou o braço, e fincou e suspendeu, levantou a velha, estorcendo-se, atravessada no facão até o esse...; ao mesmo tempo, mandado por pulso de homem um bolaço cantou-lhe no tampo da cabeça e logo outro, no costilhar, e o negro caiu, como boi desnucado, de boca aberta, a língua pontuda, mexendo em tremura uma perna, onde a roseta da chilena Unia, miúdo...
Patrício, escuite!
Vi então o que é uma mulher rabiosa...: não há maneia nem buçal que sujeite: é pior que homem!...
A Tudinha já não chorava, não; entre o Nadico, morto, e a velha Fermina estrebuchando, a morocha mais linda que tenho visto, saltou em cima do Bonifácio, tirou-lhe da mão sem força o facão e vazou os olhos do negro, retalhou-lhe a cara, de ponta e de corte... e por fim, espumando e rindo-se, desatinada ¾ bonita, sempre! ¾ ajoelhou-se ao lado do corpo e pegando o facão como quem finca uma estaca, tateou no negro sobre a bexiga, pra baixo um pouco ¾ vancê compreende?... ¾ e uma, duas, dez, vinte, cinqüenta vezes cravou o ferro afiado, como quem espicaça uma cruzeira numa toca... como quem quer estraçalhar uma causa nojenta... como quem quer reduzir a miangos uma prenda que foi querida e na hora é odiada!...
Em roda, a gauchada mirava, de sobrancelhas rugadas, porém quieta: ninguém apadrinhou o defunto.
Nisto um sujeito que vinha a meia rédea sofrenou o cavalo quase em cima da gente: era o juiz de paz.
Mais tarde vim a saber que o negro Bonifácio fora o primeiro a... a amanonsiar a Tudinha; que ao depois tomara novos amores com outra fulana, uma piguancha de cara chata, beiçuda; e que naquele dia, para se mostrar, trouxera na garupa a novata, às carreiras, só de pirraça, para encanzinar, para tourear a Tudinha, que bem viu, e que apesar dos arrastados de asa daquela moçada e sobretudo do Nadico, que já a convidara para se acolherar com ele, sentira-se picada, agoniada da desfeita que só ela e o negro entendiam bem...; por isso é que ela ficou como cobra que perdeu o veneno...
Escuite.
Até hoje me intriga, isto: como uma morena, tão linda, entregou-se a um negro, tão feio?...
Seria de medo, por ele ser mau?... Seria por bobice de inocente?... Por ele ser forçudo e ela, franzina?... Seria por...
Que, de qualquer forma, ela vingou-se, isso, vingou-se...; mas o resto que ela fez no corpo do negro? Foi como um perdão pedido ao Nadico ou um despique tomado da outra, da piguancha beiçuda?...
Ah! mulheres!...
Estancieiras ou peonas, é tudo a mesma cousa... tudo é bicho caborteiro...; a mais santinha tem mais malícia que um sorro velho!...
domingo, 2 de março de 2008
Projeto para a Turma 104
Sobrevivi... o relato do caso Maria da Penha
Em 1998, o CEJIL-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o
CLADEM-Brasil (Comitê Latino-americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da
Mulher), juntamente com a vítima Maria da Penha Maia Fernandes, encaminharam à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) petição contra o Estado
brasileiro, relativa ao paradigmático caso de violência doméstica por ela sofrido (caso
Maria da Penha n.º 12.051).
As agressões e ameaças foram uma constante durante todo o período em que
Maria da Penha permaneceu casada com o Sr. Heredia Viveiros. Por temor ao então
marido, Penha não se atrevia a pedir a separação, tinha receio de que a situação se
agravasse ainda mais. E foi justamente o que aconteceu em 1983, quando Penha sofreu
uma tentativa de homicídio por parte de seu marido, que atirou em suas costas,
deixando-a paraplégica. Na ocasião, o agressor tentou eximir-se de culpa alegando para
a polícia que se tratava de um caso de tentativa de roubo.
Duas semanas após o atentado, Penha sofreu nova tentativa de assassinato por
parte de seu marido, que desta vez tentou eletrocutá-la durante o banho. Neste momento
Penha decidiu finalmente separar-se.
Conforme apurado junto às testemunhas do processo, o Sr. Heredia Viveiros
teria agido de forma premeditada, pois semanas antes da agressão tentou convencer
Penha a fazer um seguro de vida em seu favor e cinco dias antes obrigou-a a assinar o
documento de venda de seu carro sem que constasse do documento o nome do
comprador. Posteriormente à agressão, Maria da Penha ainda apurou que o marido era
bígamo e tinha um filho em seu país de origem, a Colômbia.
Até a apresentação do caso ante a OEA, passados 15 anos da agressão, ainda não
havia uma decisão final de condenação pelos tribunais nacionais, e o agressor ainda se
encontrava em liberdade. Diante deste fato, as peticionárias denunciaram a tolerância da
Violência Doméstica contra Maria da Penha por parte do Estado brasileiro, pelo fato de
não ter adotado, por mais de quinze anos, medidas efetivas necessárias para processar e
punir o agressor, apesar das denúncias da vítima. A denúncia sobre o caso específico de
Maria da Penha foi também uma espécie de evidência de um padrão sistemático de
omissão e negligência em relação à violência doméstica e familiar contra as mulheres
brasileiras.
Denunciou-se a violação dos artigos 1(1) (Obrigação de respeitar os direitos); 8
(Garantias judiciais); 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção
Americana, dos artigos II e XVIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem (doravante denominada "a Declaração"), bem como dos artigos 3,
4,a,b,c,d,e,f,g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará.
Uma vez que no caso Maria da Penha não haviam sido esgotados os recursos da
jurisdição interna (o caso ainda estava sem uma decisão final), condição imposta pelo
artigo 46(1)(a) da Convenção Americana para a admissibilidade de uma petição,
utilizou-se a exceção prevista pelo inciso (2)(c) do mesmo artigo, que exclui esta
condição nos casos em que houver atraso injustificado na decisão dos recursos internos,
exatamente o que havia acontecido no caso de Penha.
Neste sentido, assim se manifestou a Comissão: “considera conveniente lembrar
aqui o fato inconteste de que a justiça brasileira esteve mais de 15 anos sem proferir
sentença definitiva neste caso e de que o processo se encontra, desde 1997, à espera da
decisão do segundo recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará. A esse respeito, a Comissão considera, ademais, que houve atraso injustificado
na tramitação da denúncia, atraso que se agrava pelo fato de que pode acarretar a
prescrição do delito e, por conseguinte, a impunidade definitiva do perpetrador e a
impossibilidade de ressarcimento da vítima (...)”.
Importa frisar que, à época, o Estado brasileiro não respondeu à denúncia
perante a Comissão.
No ano de 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em seu
Informe n.º 54 de 2001, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e
tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, recomendando, entre
outras medidas:
A finalização do processamento penal do responsável da agressão.
Proceder uma investigação a fim de determinar a responsabilidade pelas
irregularidades e atrasos injustificados no processo, bem como tomar as
medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes.
Sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da
agressão, a reparação simbólica e material pelas violações sofridas por Penha
por parte do Estado brasileiro por sua falha em oferecer um recurso rápido e
efetivo.
E a adoção de políticas públicas voltadas a prevenção, punição e erradicação da
violência contra a mulher.
O caso Maria da Penha foi o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém
do Pará. A utilização deste instrumento internacional de proteção aos direitos humanos
das mulheres e o seguimento das peticionárias perante a Comissão, sobre o
cumprimento da decisão pelo Estado brasileiro, foi decisiva para que o processo fosse
concluído no âmbito nacional e, posteriormente, para que o agressor fosse preso, em
outubro de 2002, quase vinte anos após o crime, poucos meses antes da prescrição da
pena. Entretanto, é necessário ainda, que o Estado brasileiro cumpra com o restante das
recomendações do caso de Maria da Penha. É de direito o que se reivindica e espera que
ocorra.
O relato detalhado do caso pode ser encontrado no livro “Sobrevivi, posso
contar” escrito pela própria Maria da Penha, publicado em 1994, com o apoio do
Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM) e da Secretaria de Cultura do
Estado do Ceará.
Projeto para a Turma 103
O gabinete do doutor Fausto
Inspirando-se num antigo personagem, um homem quase lendário, o doutor Fausto, Goethe criou um dos mais estranhos livros que a literatura moderna conheceu, misturando fantasias góticas com o primado da ciência. Segue-se uma narrativa dos seus primeiros capítulos do chamado o primeiro Fausto, escrito em 1808.
O Lamento do Doutor Fausto
Quereis sem freio ou visão estreita/ Provar de tudo sem medida."
Goethe - Fausto, 1ª parte, 1808
Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu próprio sangue, serviria o diabo a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos prazeres durante este tempo, é finalmente ao termo deles levado para o Inferno.
Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.
O laboratório da alquimia
Lá estava o doutor Fausto a lamentar-se. Devorara até então quase todos os livros possíveis, de medicina, de leis, de teologia. Seduziu-se inclusive pela magia para ver se ela lhe alcançava "o império espiritual". Um enorme vazio foi o que restou. Viu-se "um pobre simplório... sábio como dantes, sou!". Pessimista, disse não saber nada direito e que luz alguma podia dar aos homens. Debruçado na sua mesa de trabalho, acabrunhado, contemplava o luar para ver ser a beleza prateada lhe abria um canal, dava-lhe inspiração, um sinal, um atalho qualquer, para o almejado conhecimento. Assim lamuriava-se o personagem-chave da obra-prima de Goethe.
Em Busca de Ar Puro
O estúdio de Goethe
Mas que nada, nem da Lua vinha qualquer ajuda. Confinava-se ele ao "abafador covil" em que morava, cercado pela livralhada, pelas mil tralharias de um alquimista profissional, e por inúmeras velas derretidas. Fora do seu quarto gótico, porém, a vida voltava a reclamar seus direitos. Chegava a primavera. Um ar novo e quente expulsava o triste inverno da Alemanha. Os ruídos da gente jovem e dos camponeses se faziam ouvir por toda a parte no vilarejo. Fausto resolveu sair ao ar livre acompanhado pelo seu discípulo Wagner.
Caminham os dois entre o povo alegre que saudou contente o doutor e seu aprendiz. Lembram-lhe, entre brindes e algazarra, ter ele salvo outrora muitas vidas quando, com coragem, combateu uma desgraçada peste que devastou a região. Nada porém arrancava-o da decepção e do mau humor. Confessou em reservado a Wagner, que talvez ele e o pai tivessem mandado mais gente para ao céu receitando drogas que lhes pareciam bons remédios, dos que eles conseguiram salvar das doenças. Enfim, o doutor Fausto era um desiludido, um niilista.
O Demônio
Então, sentados no campo, à beira do caminho, avistaram ao longe um enorme cão preto. O discípulo não viu nada demais nele. Aos olhos do doutor Fausto porém o animal inteiro brilhava. Chamou o cão para perto de si. Acreditou-o sem dono. Resolveu, porque não, levá-lo para casa. Ao chegar, o bicho tudo focinhou e para tudo rosnou, uivou ou ganiu. Fausto então, cansado da caminhada, sentou-se na sua poltrona e, sabe-se lá a razão, abriu o Novo Testamento.
Fausto, insuflado por Mefistófeles, tenta seduzir a jovem Margarida
Lendo-o, discordou da frase do Evangelho segundo S. João, que na tradução da Bíblia de Lutero dizia: "Im Anfang war das Wort", no princípio era o Verbo! Para Fausto tudo começara com a ação. Ao exclamar isso em voz alta teve a atenção voltada para o cão. Em segundos ele se transformou. Era espantoso.
Aparece Mefistófeles
Mefistófeles, o demônio moderno
Detrás do nevoeiro que, num repente, inundou o quarto, surgiu-lhe Mefistófeles. O próprio Satanás! Apresentou-se vestido como um goliardo, um andarilho medieval. Viera para tramar um pacto de sangue com aquele doutor desesperançado. Pausa. Goethe, neste primeiro encontro de Fausto com o Maligno, tomou-se de cuidados. O seu demônio não tem o visual que dele faziam no Medievo.
Nada de cheiro de enxofre, chifres, rabo ou cascos de bode. É um diabo da época do Iluminismo, um capeta secularizado. Aparenta ser igual aos humanos, ainda que imperando sobre ratos e insetos asquerosos. Trafega na sociedade com o desembaraço de um estudante ou de um fidalgo. Ele estaria atrás de Fausto e de tudo o que ele realizaria até o final do exaustivo livro de Goethe, cuja primeira parte surgiu em 1808. Considerava o homem como uma cigarra pensante, condenado a pousar em tudo, a cheirar coisas imundas, para logo em seguida desejar "as estrelas mais belas e os mais altos prazeres da Terra".
A Energia Satânica
Pois que assim seja! A extraordinária energia satânica incorporada por Fausto desde aquela soturna visita fez dele o símbolo do homem moderno: industrioso, apaixonado pela técnica, voando sobre os montes e as paisagens, um amalucado sem maiores pruridos pelos estragos que faz.
Hoje, quando olhamos ao derredor, vemos que as perplexidades que atormentaram o criador daquele mitológico personagem da modernidade - a mesma mistura de susto e fascínio que ele revelou perante a emergência assombrosa da ciência e da técnica - são as mesmas nossas.
Simpatia pelo Demônio
Projeto para a Turma 102
E SE FOSSE VERDADE?
O ritmo intenso da vida da médica Elizabeth Masterson (Reese Whiterspoon) preocupa seus amigos e familiares. A jovem trabalha dia e noite e tanto cansaço culmina num grave acidente, motivo pelo qual recebe a notícia de que deve tirar férias forçadas até se recuperar. Enquanto isso, o arquiteto David Abbott (Mark Ruffalo) se muda para o apartamento que acabou de alugar. Lá, no entanto, ele encontra uma mulher loira, que diz ser a proprietária do imóvel.
Discussões à parte, os dois acabam se encantando um com o outro. A questão é que a relação entre o casal é um pouco estranha: ela atravessa paredes e ele é o único que consegue enxergá-la. A moça tem certeza que o rapaz sofre de problemas mentais e ele acredita que a nova amiga é um fantasma. Prestes a descobrir o que está realmente acontecendo, Elizabeth e David já estão irremediavelmente apaixonados.
Com orçamento de US$ 58 milhões, E Se Fosse Verdade... é do mesmo diretor de Meninas Malvadas e Sexta-Feira Muito Louca. A história é baseada no livro de Marc Levy. A protagonista Reese Whiterspoon ficou conhecida no cinema por interpretar a patricinha Elle Woods em Legalmente Loira.
Show me how you do that trick
The one that makes me scream he said
The one that makes me laugh he said
And threw his arms around my neck
Show me how you do it
And i promise you i promise that
I’ll run away with you
I’ll run away with you
Spinning on that dizzy edge
I kissed his face and kissed his head
And dreamed of all the different ways i had
To make him glow
Why are you so far away, he said
Why won’t you ever know that i’m in love with you
That i’m in love with you
You, soft and only
You,lost and lonely
You, strange as angels
Dancing in the deepest oceans
Twisting in the water
You’re just like a dream
You're just like a dream
Daylight licked me into shape
I must have been asleep for days
And moving lips to breathe his name
I opened up my eyes
And found myself alone alone
Alone above a raging sea
That stole the only boy i loved
And drowned him deep inside of me
You, soft and only
You, lost and lonely
You, just like heaven
You, soft and only
You, lost and lonely
You, just like heaven